segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Nunca dê excessiva importância a boatos

O maior erro que um político pode cometer é responder a boatos, mesmo a um boato sobre fato verdadeiro
O surgimento de boatos durante a vida política é algo praticamente inevitável. Prepare-se então para lidar com eles de maneira inteligente. Primeiro é preciso começar entendendo bem o problema. Ao contrário do entendimento mais vulgar, boato não é igual a "fofoca". Pode acontecer que o boato surgiu de uma "fofoca", mas não se deve entendê-los como semelhantes.
O boato, uma vez difundido, ele acaba por provocar prejuízos a alguém



O que é um boato?

1. O boato é uma notícia. Como tal ele veicula uma informação que é nova, não publicada e portanto não sabida.

2. Mas não é qualquer notícia, não é uma notícia banal (fofoca) e sim uma notícia importante, daquelas que queimam por dentro quem as possui.

3. Queima por dentro porque desperta sentimentos fortes, de natureza positiva ou negativa, em outras palavras, é uma notícia importante que desperta alguma ansiedade em quem a possui. É este sentimento que faz com que o boato se difunda. Quem o possui tem que passá-lo adiante para outro.

4. Além destas características, esta notícia importante que desperta ansiedade em quem a possui refere-se a um fato ou ocorrência que: (a) está por acontecer ou (b) acabou de acontecer. Sem este ingrediente de atualidade ou iminência o boato não tem seu curso acelerado na sociedade.

5. Esta notícia importante que desperta ansiedade e que está por acontecer ou vem de acontecer traz consigo conseqüências de grande relevância, de grande impacto.

Como se vê desta listagem de características, não é qualquer notícia que se credencia como boato. Por outro lado, quando o boato se constitui, vê-se também porque ele consegue se difundir com tal velocidade e amplidão na sociedade, ou nos segmentos sociais por ele afetados. Mais ainda, o boato, quando é "apropriado" pela sociedade, está sujeito a dois processos:

Simplificação - a notícia que ele veicula, no trânsito de pessoa a pessoa vai perdendo detalhes, para fixar-se numa mensagem resumida e simplificada, contendo o essencial da notícia.

Reconstrução - a notícia original está sujeita a novos "acréscimos" que os indivíduos nela introduzem. Assim sendo, o boato perde detalhes, pelo processo de simplificação, mas ganha outros, pelo processo de reconstrução, no qual os indivíduos contribuem com sua imaginação para enriquecer e dramatizar ainda mais a notícia original. Uma campanha eleitoral - e mesmo um mandato legislativo - são territórios naturalmente férteis para a produção e disseminação de boatos. Um dos mais comuns diz respeito a resultados de pesquisas. Subitamente corre o boato de que está por sair uma pesquisa, na qual o candidato "X" caiu e seu adversário "Y" subiu e o ultrapassou. Ou imagine-se que corre o boato de que está por ser apresentada uma prova cabal de que o candidato "X" está envolvido em corrupção. Não importa, neste contexto, se este boato foi fabricado ou se surgiu de maneira impossível de determinar. O que importa é que, uma vez difundido, ele provoca prejuízos a alguém.


O maior erro que um político pode cometer é responder a boatos



O maior erro que um político pode cometer é responder a boatos, mesmo a um boato sobre fato verdadeiro. Não esqueça que o boato é uma notícia não confirmada. Isto é, o boato somente prospera, enquanto a matéria sobre a qual ele se refere não se transforma em notícia confirmada. É no território da possibilidade, da plausibilidade, que o boato nasce e se difunde. Ou ele é uma antecipação de um fato, e logo será confirmado (deixando de ser boato para ser notícia), ou ele é falso e, não sendo confirmado, morre.

Responder ao boato equivale então a: ou dar tratamento real a uma ficção, ou assumir o ônus antes que ele se transforme em notícia, fazendo assim que ele seja notícia. Diante de um boato negativo, a melhor providência é manter-se calmo, discretamente procurar saber se é verdadeiro ou não, e aguardar que ele se torne notícia (se é que se tornará) para só então reagir à notícia, nunca ao boato.

Boato deve ser tratado como se trata uma acusação anônima: ignora-se, até que sua veracidade se confirme ou sua autoria se anuncie. Há boatos entretanto que não podem ser tratados desta maneira. Quando o boato se refere, por exemplo, a acontecimentos futuros, que portanto não podem ser desmentidos no correr da campanha, há que combatê-los, desmentindo-os. Tome-se o exemplo de um candidato contra o qual o adversário está espalhando boatos de que vai cortar um programa de saúde que é muito aceito pela população. Não há como surgir uma notícia de que o boato é falso, porque ele se refere a algo que só acontecerá depois da eleição.

Nestes casos você tem que "apagar incêndios", comprometer-se a não terminar com o programa e tranqüilizar os eleitores. Há sempre uma surda campanha de boatos que os candidatos plantam nos seus adversários. Se isto ocorrer, você terá que entrar na guerra de boatos, "apagando os incêndios no seu território" e "produzindo os seus no território adversário".

Francisco Ferraz