quarta-feira, 16 de junho de 2010

VÍTIMA DA ESPERTEZA.


Por Fernando Soares

Uma parte significativa dos políticos pratica a esperteza, na crença de que a sociedade é constituída basicamente de idiotas. O que aconteceu no Congresso por ocasião da votação do projeto Ficha Limpa exemplifica bem essa esperteza que, ao final, mutilou o espírito inicial da proposta. Por sinal, esta veio a merecer a atenção dos parlamentares porque chegou ao Congresso respaldada por 1,5 milhão de assinaturas, e porque estamos num ano eleitoral. Em outra ocasião, teria merecido o solene desprezo da maioria.

Aprovado em ambas as Casas, só o foi em virtude de dois golpes sutis que alteraram o seu teor original, mas não chegaram a prejudicar sua essência. O primeiro golpe ocorreu na Câmara, quando ficou estabelecido que somente estivessem inelegíveis os candidatos condenados em segunda instância por órgão colegiado da Justiça. A proposta inicial era a da inelegibilidade de condenados em primeira instância.

O segundo golpe ocorreu no Senado. O senador Francisco Dornelles trocou a expressão “ os que tenham sido condenados” por “os que forem condenados” e abriu a porta para que políticos de ficha suja , com condenação em segunda instância, como o deputado Paulo Maluf, possam concorrer neste ano. Não por coincidência, o senador e o deputado pertencem ao mesmo partido, o PP.

Deputados e senadores comemoraram a aprovação do projeto como uma grande vitória do Congresso. Não foi. Não fizeram mais do que o dever e ainda devolveram à sociedade um projeto modificado e vitimado pela esperteza e pelo espírito corporativo. O Congresso deve continuar sob marcação cerrada, pois falta muito para que atinja os padrões mínimos de eficiência e honestidade que dele esperamos.