Pesquisa
do Datafolha realizada no jogo entre Brasil e Chile, no Mineirão, mostrou que
90% dos torcedores eram de classes A ou B, 67% eram brancos e 86% tinham ensino
superior.
por ANA
PAULA PEDROSA
O Brasil que vai ao
estádio assistir a um jogo de Copa do Mundo não é o Brasil que está nas ruas.
Pesquisa do Datafolha realizada no jogo entre Brasil e Chile,
no Mineirão, mostrou que 90% dos torcedores eram de classes A ou B, 67% eram
brancos e 86% tinham ensino superior. Na população em geral, os pardos e negros
são maioria (56%), a classe C concentra quase metade dos brasileiros (49%) e os
que têm diploma universitário são apenas 16%.
Nos camarotes, a
concentração de gente rica e influente é ainda maior. De acordo com informações
de quem trabalha na organização dos espaços VIPs no Mineirão, no primeiro jogo
– Colômbia e Grécia, disputado em 14 de julho – foram 6.000 pessoas nos camarotes.
Na próxima terça-feira, quando o estádio recebe uma semifinal que pode ter a
presença do Brasil, devem ser 14 mil convidados, o equivalente a 24% do
público, considerando a média de 57.500 pessoas por jogo.
Quem fica nesses
espaços tem buffet especial, com pratos frios, quentes e sobremesa, além de
bebidas variadas, que vão do refrigerante ao vinho ou espumante.
Ar-condicionado, garçons, serviço de bar durante todo o jogo e réplica da taça
para levar de recordação estão entre as regalias. O serviço de bufê é
padronizado pela Fifa e oferecido por três empresas.
Nos camarotes só
entram convidados. Tudo é pago pelas empresas, que desembolsaram fortunas para
marcar presença nos estádios. Os camarotes foram vendidos há dois anos e o
pacote mais caro custava R$ 4,6 milhões, com direito a 19 jogos no Mineirão, no
Maracanã (RJ) e no Itaquerão (SP). O custo por jogo é de R$ 242 mil. Cada
camarote comporta 22 convidados, o que significa um investimento de cerca de R$
11 mil por pessoa. Para comparar, o ingresso mais caro colocado à venda no site
da Fifa custa R$ 1.980, para a final no Maracanã.
Mesmo as
patrocinadoras da Fifa ou da seleção brasileira têm que comprar os espaços para
marcar presença nos estádios. Os convidados são selecionados rigorosamente
entre clientes especiais, fornecedores e parceiros estratégicos, pessoas
influentes, famosos e formadores de opinião. Até o príncipe Harry, da
Inglaterra, já passou pelos camarotes do Mineirão.
Sem
negros. Em
sua edição de ontem, o jornal inglês “The Guardian” publicou um artigo sobre a
ausência de negros nos estádios. O autor do texto, o brasileiro Felipe Araujo,
diz que já perdeu gols porque estava “encarando a torcida” à procura de um
negro.
“Diferentemente da
África do Sul ou dos Estados Unidos, aqui não há uma classe média negra – e nem
uma classe política de negros. A maioria dos negros, no Brasil, é pobre, e os
ingressos para a Copa são, para a maioria, inalcançáveis”, diz o texto.