É muito comum atribuir-se
à coincidência a ocorrência de fatos não previstos e surpreendentes. Na vida
privada, então, a todo o momento as pessoas se referem à coincidência para
justificar o que lhes foge à lógica. Na política, a visão deve ser outra.
Atribuir algo à
coincidência tem o poder de estancar dúvidas e indagações. "Foi uma
coincidência" equivale a dizer "não há o que explicar, não há
porque suspeitar, não há razões para investigar causas". A
coincidência, assim, é uma forma de manifestação do acaso, seja ele favorável
ou não. Coincidência feliz é o acaso sob a forma de sorte.Coincidência infeliz
é a casualidade travestida de azar.
Na política também, não poucas vezes, os fatos são atribuídos à
coincidência, possuindo as mesmas características daqueles para os quais não há
motivos para esclarecimentos. Sua ocorrência é autoexplicativa. É bom se
acostumar, desde logo, com dois princípios que no mundo real são quase leis:
·
Não há coincidência na política
·
Os atos e fatos políticos são provocados por interesses
Coincidência feliz é o acaso sob a forma de sorte
É até possível que haja coincidências (o sorteio do número com o qual o
candidato vai concorrer deve-se a uma decisão aleatória, por exemplo), mas é
mais aconselhável pensar e trabalhar com a convicção de que elas nada mais são
do que fatos para os quais ainda não encontramos motivos que os
expliquem. Diante da aparente coincidência deve-se, em vez de repousar o
espírito e conformar-se com a ocorrência, investigar suas razões. Você verá
que, se dedicar algum tempo para tentar entender a coincidência, começarão a
surgir fatos ou declarações que a precederam e que apontavam para aquela
direção.
Não se trata de tornar-se um paranoico com a situação. Se o ocorrido é
irrelevante ou encerra importância mínima, talvez não valha a pena preocupar-se
em explicá-lo. O tempo se encarregará disto. Entretanto, se o fato concebido
como coincidência se sobressai e pode ter consequências, então merece
uma detalhada investigação. Aceitar a coincidência como um fato acabado
pode, na maioria das vezes, encaminhar o governante para o rumo do pensamento
mágico - e, portanto, ingênuo - levando-o a subestimar o que deveria ser
valorizado.
Se, por outro lado, o fato em questão resistir às tentativas de
explicação por informações objetivas e não tiver outros desdobramentos, então
sim, era uma coincidência. Adotando uma postura cética em relação ao acaso,
você descobrirá que por trás das aparências existem encontráveis interesses,jogadas
e lances com autores definidos, bem como beneficiados e prejudicados
identificáveis.
Francisco Ferraz