terça-feira, 17 de abril de 2012

A CAMPANHA ELEITORAL É UM PROCESSO DE COMUNICAÇÃO, MAS DE "COMUNICAÇÃO INTERESSADA"

Esta é uma questão muito delicada e a forma como o candidato lida com ela determina, em grande medida, as suas possibilidades de vitória ou de derrota na eleição.
Imagem ilustrativa
Para a mídia, informações negativas - escândalos, revelações etc - atraem mais a atenção e vendem mais do que as informações positivas

A campanha eleitoral é um processo de comunicação, mas não é demais lembrar, "comunicação interessada". Todos procuram levar aos eleitores as informações que lhes convém. A campanha de cada um dos candidatos funciona como uma oficina de informações (positivas) sobre ele, seus valores, seus projetos, sua história de vida, e sobre seus adversários (negativas ou, no mínimo, duvidosas).

Simultaneamente, a mídia (jornais,rádios, Internet e TVs) empenha-se em produzir as suas informações sobre os candidatos, na lógica que lhe é peculiar, na qual, informações negativas - escândalos, revelações etc - atraem mais a atenção e vendem mais do que as informações positivas.

Pesquisa sobre o adversário

A tendência contemporânea do recurso à propaganda negativa tem estimulado a criação do setor de pesquisa de oposição (opposition research) nas campanhas, destinado a pesquisar o passado dos adversários, para encontrar informações que o coloquem mal perante os eleitores. Estas informações podem ser de natureza pessoal, profissional, administrativa ou política, desde que tenham o poder de desqualificar ou, no mínimo, lançar dúvidas sobre o caráter, a coerência e a competência do adversário. Nesta busca, as informações "mais preciosas" são aquelas que aliam à sua gravidade intrínseca o fato de que não são conhecidas pela opinião pública. A sua divulgação equivale a uma "revelação", um fato novo e inesperado, em relação ao qual o candidato fica na obrigação de se explicar. Esta situação o coloca na defensiva e sob suspeita (Por que ele escondeu esta informação dos eleitores?).

É claro que, assim como outras situações políticas, esta tem também as suas nuances. Se a informação negativa for incorreta, inverídica, ou se o atacado tiver para ela uma explicação convincente e justificada, o tiro sai pela culatra, e o acusador aparecerá como um político irresponsável, oportunista e não confiável.

Por outro lado, se a informação estiver sustentada por fatos e/ou documentos irrefutáveis, e o acusado não puder apresentar razões sólidas em seu favor, ficará numa situação política de grande fragilidade. A qualquer momento da campanha a acusação poderá ser novamente levantada, para manter viva a lembrança do eleitor.



Pesquisar o próprio passado


O candidato deve olhar para seu passado com os olhos de um adversário

O candidato precisa, antes de começar a campanha, e antes de investigar o passado de seus adversários, analisar com extremo rigor o seu passado e avaliar se ele resiste a uma campanha eleitoral. Deve olhar para seu passado com os olhos de um adversário.

Se ainda não exerceu um cargo público deve olhar detidamente sua vida pessoal e profissional. Se já ocupou uma função pública, além destas duas áreas deve reconstituir suas ações administrativas e/ou projetos de lei que patrocinou, e seus votos, aprovando ou se opondo aos projetos no órgão legislativo em que participou.

O foco desta auto-investigação são:

·         fatos, dos quais haja comprovação testemunhal ou documental

·         fatos graves, que signifiquem desqualificação para o cargo pleiteado

Havendo fatos com estas características, deve avaliar se dispõe de argumentos para "liquidar" a questão, com explicações convincentes. Se julgar que não dispõe desta condição, deve pensar seriamente em desistir da sua candidatura, até que os possua.

Por outro lado, se dispuser de argumentos que neutralizem a "revelação", poderá seguir uma ou outra das seguintes alternativas:

·         Criar a armadilha: deixar que o adversário traga o fato a conhecimento público e o explore politicamente, criando a expectativa de que conseguiu deixá-lo sem saída, para só então dar a sua versão de forma contundente, indignada, convincente e cabal, partindo para a ofensiva e denunciando-o por sua irresponsabilidade, demagogia e falta de escrúpulos. Agindo desta forma o candidato atacado passa de réu a acusador, de "criminoso" a vítima, e pode conseguir um importante acréscimo de apoio por parte dos eleitores.



·         Antecipar-se à denúncia: tomar a iniciativa de revelar o fato (anunciando que sabe que seus adversários vão tentar explorá-lo politicamente) para demonstrar que não tem motivos para temer a acusação, até por que, ela, ou não é verídica, ou é incorreta, ou diante da explicação, feita com franqueza e transparência, perde o sentido, e quem a faz está sendo injusto, oportunista e desleal(Clinton na campanha de 1992 na questão do recrutamento para a Guerra do Vietnã).


O que o candidato não pode fazer é mentir sobre seu passado. Seja para valorizar-se, defender-se, ou sustentar a ingênua crença de que seus adversários não vão investigar o seu passado. Ou ainda, "fazer de conta" que o fato não existe e não preparar-se para lidar com ele quando vier a tona. O que ele não pode permitir é que, diante de uma revelação que pode destruir a sua credibilidade, não disponha de elementos e argumentos para sobreviver a ela.