terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Cuidado com o off. Ele pode se voltar contra você
Informações deste tipo só devem ser ditas a jornalistas com os quais o político tem grande intimidade.
O senador Antônio Carlos Magalhães quase perdeu o mandato em 2003 quando o repórter Luiz Cláudio Cunha, da revista IstoÉ, revelou a parte em off de uma entrevista, em que ACM contava sua participação em grampos telefônicos contra adversários políticos.
Nos Estados Unidos, as informações passadas em off por uma fonte desconhecida - que foi revelada ao público somente em 2005 - protegida pelo apelido de "Garganta Profunda" foram decisivas para a renúncia do presidente Richard Nixon, nos desdobramentos do Caso Watergate. Seu nome era Mark Felt e na condição de número dois do FBI forneceu dados que levaram à renúncia do presidente Nixon em 1974.
Os dois casos ilustram bem o cuidado que a liderança política precisa ter com o uso do off (abreviatura de off the record). A rigor, informações ou declarações em que a fonte que as divulga não quer ser e não é identificada.
Tancredo Neves, mestre na arte da política, recomendava que o off só devia ser usado com jornalistas de grande intimidade. O off pressupõe a revelação de um segredo, e segredo não é algo que se compartilhe com qualquer interlocutor.
Hoje em dia, entretanto, o off ficou banalizado nas relações entre a Imprensa e Poder. Por preguiça ou ânsia de arrancar informações de suas fontes, muitos repórteres tomam a iniciativa de sugerir que a fonte não seja identificada.
Os exageros levam os veículos a perda de credibilidade - e de receitas - por isso, vários deles, trataram de regular e limitar o uso do off. Não se trata, porém, de "demonizar" o off, mas sim de separar o que é informação plantada e irresponsável, do que é importante e verdadeiro, mas cuja fonte precisa ser preservada.
No primeiro caso, desconsidera-se a informação e a fonte passa a ser suspeita até prova em contrário. No segundo caso, publica-se a informação. Nos dois casos, o jornalismo feito com responsabilidade exige que a informação seja checada com outras fontes. Para evitar problemas nesta complicada relação, não custa seguir algumas regras básicas:
• não banalize o off: fonte que apela constantemente para este recurso cai em descrédito e tende a ficar fora das agendas dos repórteres;
• os repórteres sabem ser agradecidos: se você se firmou como fonte confiável graças a algumas informações reservadas, cobre a contrapartida quando precisar de visibilidade;
• use o off, mas não a imprensa: a informação que você precisa passar sem ser identificado tem que ser relevante e verdadeira;
• desconfie quando o próprio repórter propõe o off: ou é apressado e ansioso ou, o que é pior, a proposta pode conter uma armadilha;
• entretanto, se o repórter for de sua confiança e propuser o off a vantagem é sua: ele ficará devedor e dificilmente revelará sua fonte;
• off é para ser divulgado: se a informação não pode ser revelada publicamente, preservando a fonte, é melhor nem revelá-la;
• certifique-se de que suas informações não estão sendo gravadas: na conversa em off, obtenha este compromisso formal de seu interlocutor, caso contrário voce fica extremamente vulnerável e de nada vão adiantar os desmentidos posteriores;
• é melhor se prevenir, do que remediar: antes da entrevista em off, busque informações prévias sobre os procedimentos dos veículos e profissionais com os quais vai se relacionar;
Permanece como regra de ouro, na verdade, a recomendação do mestre Tancredo: off só para jornalistas de grande intimidade e de extrema confiança. "E olhe lá", o bom mineiro poderia acrescentar, com uma pitada desconfiança...
Por Flávio Dutra