segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Quero um político corrupto arrependido!


Opinião

A conversão sempre foi um discurso de marketing infalível. São Francisco de Assis até hoje comove e seduz jovens que descobrem que ele já foi, antes de se converter, um boêmio, um "filhinho-de-papai", excêntrico representante da juventude irresponsável de todos os tempos.

As religiões todas adoram exibir os seus recém-convertidos, chamados de "neófitos" (neo, novo; fitós, plantado), na tentativa de atrair ao seu credo pessoas que concluam: "se fez bem a ele, fará bem a mim também". É comum encontrarmos evangélicos promovendo espetáculos com o testemunho de "ex-católicos-macumbeiros" que contam como se libertaram da idolatria e conheceram Jesus. Às vezes aparecem também ex-evangélicos que contam ter tido visões da Virgem Maria e se converteram à fé católica.

Ambos os credos têm conseguido bons resultados apresentando grandes pregadores midiáticos que se converteram de uma vida desviada. Existem muitas ex-prostitutas, ex-bruxas, ex-narcotraficantes e até ex-homossexuais (sic). Mas nunca vi um político ex-corrupto. Veja bem: é fácil encontrar ex-políticos, que geralmente são aqueles que se decepcionaram com a política e desistiram da carreira; mas políticos ex-corruptos não aparecem no mercado! Eu queria ouvir alguém dizendo: "confesso que fui um político sujo, desviei recursos públicos, fui um parlamentar comprado, troquei de partido por interesse econômico, cobrei propina, empreguei parentes, comprei votos, mandei matar meu adversário...". Por que será que não se ouve esse tipo de testemunho?

Uma das respostas talvez seja que é mais fácil acreditar que um gay se transformou por milagre num heterossexual, e nunca mais desejou uma pessoa do mesmo sexo, do que acreditar que um político corrupto esteja realmente arrependido e disposto a ser diferente na vala comum dos carreiristas partidários. Outra tentativa de explicação seria a de que simplesmente não existam ex-corruptos, porque o mercado ainda lhes é favorável, a impunidade ainda não permitiu a suas consciências nenhuma sombra de castigo divino que os ameace, enfim, ainda há espaço para mais roedores de verbas públicas, a fonte está longe de secar.

Eu me converteria, com certeza. E muitos fariam o mesmo se ouvissem claramente alguém reconhecer diante do tribunal (o do Poder Judiciário ou pelo menos o de Cristo) que, sim, a política no Brasil está suja e precisa de uma reforma urgente. Eu mudaria a minha fé (não a fé religiosa, mas a fé de cidadão desiludido) se eu ouvisse algum político convertido dizer os podres que conheceu, os caminhos e os macetes da pouca-vergonha. E está aí a terceira e mais lógica explicação do porquê não existirem ex-corruptos na mídia: porque seriam muito provavelmente mortos. Nem os traficantes são tão vingativos quanto os políticos sujos. Nem o crime organizado é tão organizado quanto à corrupção institucionalizada neste país.

•Por Pe.Juliano Ribeiro Almeida é membro da Academia Calçadense de Letras, sacerdote católico e exerce seu ministério na paróquia Nossa Senhora do Amparo, Itapemirim-ES