Se você está preocupado com a 'justiça social' e quer genuinamente
ajudar os pobres a subir na vida de maneira permanente e independente, há
alguns procedimentos que você pode seguir.
Sua primeira e imprescindível obrigação para com os pobres é: não se
torne um deles e não faça com que outros se tornem um deles.
Será muito mais difícil ajudar pessoas pobres se você ou seu vizinho se tornar
pobre. Assim como você não deve se tornar pobre, você também não deve defender
políticas que levem ao empobrecimento de ricos na crença de que isso levará ao
enriquecimento dos pobres. Para o pobre, não interessa se foi você ou o seu
vizinho que empobreceu por meio de medidas do governo; a situação dele não
melhorará. Um rico empobrecido não cria um pobre enriquecido. A economia não é
um jogo de soma zero.
Não sendo pobre, você tem uma escolha: você pode dar o peixe para os
pobres comerem ou você pode lhes arrumar um emprego e ensiná-los a pescar o
peixe por conta própria — isto é, ensiná-los a serem seres humanos produtivos.
O que nos leva à sua segunda obrigação: se você quer ensinar os pobres a
serem independentes e capazes de se auto-ajudar, comece dando o exemplo ainda
dentro de sua própria casa. Crie seus filhos de maneira austera. Filhos
independentes e não-mimados se tornam mais produtivos, mais solícitos, mais
realistas e menos propensos a roubar ou a ser desonestos. No futuro, seu filho
poderá servir de exemplo comportamental para aquelas pessoas que você está
preocupado em ajudar.
Dado que todos vivemos no mesmo planeta (e não há como fugir dele —
vivos), todos enfrentamos o mesmo problema sobre como alocar recursos escassos
da maneira mais eficiente possível do modo a satisfazer desejos cada vez
maiores (já são quase 7 bilhões de pessoas na terra). Há duas maneiras de se
alocar recursos: 1) por meio da força, ou seja, por meio de decretos e coerções
governamentais; ou 2) voluntariamente, por meio do sistema de preços fornecido
pelo mercado.
Esta segunda maneira é mais duradoura e, logo, preferível para ser
adotada com o intuito de sustentar a vida de um enorme número de pessoas. Por
isso, é também sua obrigação explicar às pessoas — principalmente aos seus
amigos igualmente sedentos por 'justiça social' — como funciona uma economia de
mercado e por que apenas ela pode criar a maior quantidade possível de bens e
serviços para os mais pobres, melhorando seu padrão de vida. Todo e qualquer
sistema econômico socialista sempre culmina em escassez e em racionamento de
recursos, exatamente o contrário do que você quer para os mais pobres.
Sua terceira obrigação para com os pobres é dar bons exemplos, de modo
que eles se sintam estimulados a emular seu sucesso. Não minta, não roube, não
trapaceie e não tome dinheiro das pessoas, tampouco utilize o governo para
fazer isso por você. Não enriqueça por meio de políticas governamentais. Não
aceite dinheiro nem privilégios do governo — dado que o governo nada cria, tudo
o que ele lhe dá foi adquirido coercivamente de terceiros (na esmagadora
maioria dos casos, contra a vontade de seus legítimos proprietários), uma
medida que gera apenas ressentimento destes pagadores de impostos. Uma
civilização que é erigida sobre o roubo e sobre privilégios não pode ser
duradoura. Dê o exemplo não contribuindo para o perpetuamento deste arranjo.
Em um futuro muito próximo, será cada vez mais difícil para um indivíduo
preservar sua riqueza. Governos falidos ao redor do mundo — consequência
econômica inevitável de estados assistencialistas e inchados — estarão sedentos
para confiscar quaisquer ativos remanescentes em uma desesperada tentativa de
prolongar sua sobrevivência (mas sempre em nome do "bem público"). Os
direitos individuais serão abolidos em nome do 'bem comum' e várias leis serão
criadas com o intuito de tornar ilegal qualquer medida que vise a proteger a
riqueza dos indivíduos mais ricos — e aí sim veremos uma verdadeira caça às bruxas.
Algumas pessoas acreditam que poderão evitar problemas caso
voluntariamente entreguem seu dinheiro para o governo (ou peçam para que o
governo o tribute). Pode ser, mas o fato é que durante a hiperinflação da
França nos anos 1790, os ricos que não fugiram foram decapitados. Talvez a
França tenha sido um caso extremo, mas a história mostra que sempre que os
ricos foram pilhados por políticos populistas, os resultados não foram bonitos.
Portanto, não empreste sua retórica e nem dê seu apoio a políticos ou movimentos
políticos que defendam o confisco direto da riqueza dos mais ricos. Além de os
pobres nunca terem sido beneficiados por tais medidas (algo economicamente
impossível), você estará apenas aumentando o número de pobres.
Portanto, sua quarta obrigação para com os pobres é assegurar parte da
sua riqueza para as gerações futuras. Dado que você genuinamente quer ajudar os
pobres, acumule o máximo possível de ativos, trabalhe bastante e produza muita
riqueza durante seu tempo de vida. Ao produzir riqueza, você não apenas estará
empregando pessoas e enriquecendo-as também, como estará produzindo para toda a
humanidade uma maior quantidade de bens e serviços. É assim que você fará com
que as pessoas subam na vida.
Caso prefira o assistencialismo puro, você também tem a opção de
distribuir toda a sua riqueza quando se aposentar ou quando morrer. Quanto mais
riqueza você produzir, mais você poderá distribuir. Você tem liberdade de
escolha. Em vez de folgadamente defender o esbulho da riqueza alheia, crie você
próprio a sua riqueza e então a distribua para os pobres — ou, melhor ainda,
empregue-os neste processo de criação de riqueza.
Durante este processo, você terá de saber manter seus ativos a salvo do
perigo, evitando que sejam confiscados pelo governo ou que simplesmente sejam
esbanjados e dissipados. É neste quesito que você terá seus maiores problemas,
muito embora várias famílias já tenham demonstrado ser possível manter sua
riqueza ao longo de gerações. Sua riqueza provavelmente estará na forma de
ativos produtivos que são difíceis de serem movidos de um país para o outro.
Isso tornará mais difícil se proteger do governo doméstico, que estará ávido
para confiscar sua riqueza quando ele precisar do dinheiro. Conclusão: você
terá de diversificar seus ativos ao redor do mundo, de modo que, quando o
governo de um país se tornar muito ganancioso (sempre para ajudar os pobres),
você terá outra base de operações da qual operar. Isso irá garantir que você se
mantenha fiel à sua primeira obrigação para com os pobres. Quem disse que é
fácil concorrer com o amor do governo pelos pobres?
Caso continue preferindo ensinar a pescar em vez de dar o peixe, sua
quinta e última obrigação para com os pobres é legar em herança sua riqueza
para alguém (ou para um grupo de pessoas) que irá dar continuidade ao seu
trabalho de fazer deste mundo um lugar melhor para os pobres viverem, com uma
maior produtividade e uma mais eficiente alocação de ativos. Esta poderá ser a
tarefa mais difícil de todas.
Ser caridoso com a riqueza dos outros é uma delícia. Arregaçar as mangas
e produzir por conta própria aquilo que você quer ver distribuído já é um pouco
mais trabalhoso. Mas seu amor genuíno aos pobres servirá de estímulo todas as
manhãs. Boa sorte!