quarta-feira, 22 de julho de 2015

O QUE A MACONHA PODE FAZER PELA SUA SAÚDE

Milhares de anos depois das primeiras referências históricas do consumo de maconha, o potencial médico da cannabis continua pouco explorado. Isto se deve à falta de conhecimento básico. Há apenas 25 anos foi descoberto o sistema endocannabinoide, uma extensa rede de comunicação entre os neurônios e outras células do sistema nervoso central, cujo funcionamento é modulado pelas principais substâncias ativas da cannabis. O próprio organismo gera variantes endógenas desses compostos para regular funções cerebrais fundamentais, como o comportamento, a memória e a dor. Agora, o desafio é transformar os cannabinoides em fármacos mais eficazes contra uma gama cada vez mais ampla de doenças – dos tumores mais agressivos à epilepsia.
“Por um lado, temos uma substância que foi consumida durante séculos, mas cujos efeitos foram comprovados em muito poucos estudos clínicos com pacientes”, explica Rafael Guzmán, diretor de um grupo de pesquisa sobre cannabinoides na Universidade Complutense de Madri. Por outro lado, diz ele, é cada vez maior o conhecimento básico sobre os seus efeitos graças aos estudos com animais e células humanas.
Num desses estudos, Guzmán e outros autores demonstraram que cannabinoides como o THC, o principal responsável pelos efeitos psicoativos da maconha, reduzem o crescimento do glioblastoma, um tumor cerebral muito agressivo e difícil de tratar. “Há muito boas evidências de que a cannabis pode eliminar o câncer em células humanas e de camundongos, mas ainda há poucas provas sólidas de que faça isso em pessoas”, reconhece.
Sua equipe colabora com um estudo clínico do Reino Unido que verifica a eficácia do Sativex, um fármaco que contém os dois principais compostos da cannabis (THC e cannabidiol, ou CBD), para pacientes cujos tumores ressurgiram após a cirurgia. O medicamento é administrado junto com a quimioterapia convencional. “Em alguns meses”, explica Guzmán, sua equipe espera começar o primeiro ensaio clínico na Espanha para avaliar a efetividade conjunta como tratamento de primeira linha em pacientes com glioblastoma.
EL PAIS