RIO
- Investigação sobre trabalho escravo de chineses em pastelarias do Rio levou o
Ministério Público do Trabalho (MPT) a descobrir que há uma espécie de entre posto
onde donos das lanchonetes escolhem futuros empregados. Os encontros ocorrem em
restaurante ainda não identificado.
Cinco chineses foram encontrados
em situação análoga à escravidão em três pastelarias. Em uma delas, os
procuradores recolheram até mesmo carne de cachorro congelada no freezer.
Interior da Pastelaria em Parada
de Lucas, na zona norte do Rio, que foi fechada pelo Ministério Público do
Trabalho (MPT) por manter seus funcionários em condições análogas à escravidão.
Os chineses que trabalham
ilegalmente nas pastelarias não ficam atrás do balcão, mas dentro dos
estabelecimentos. Cumprem jornadas diárias exaustivas, das 5h às 22h. Não
folgam. O salário prometido (de R$ 1.500 a R$ 2 mil) fica retido, para quitar
despesas da viagem. Os chineses são da região de Guangzhou, na província de
Guagdong.
“A impressão que temos é que se
trata da mesma quadrilha. Eles viajam em grupos, entre 6 e 10, e são retirados
já no setor de imigração no Aeroporto Tom Jobim, onde têm passaportes retidos.
São levados para um restaurante, onde uma pessoa responsável negocia os
trabalhadores com os donos de pastelarias. Ali é feita a distribuição dos
funcionários”, disse o procurador Marcelo José Fernandes da Silva.
O primeiro caso ocorreu em 2013
em uma pastelaria em Parada de Lucas, na zona norte. Um jovem chinês era vítima
de espancamentos e castigos físicos promovidos pelo patrão, o chinês Van
Ruilonc, de 32 anos, condenado por tortura. A vítima, incluída no Programa de
Proteção à Testemunha, vivia em cela fechada com cadeado e dormia perto de onde
os cães eram mortos a pauladas. A carne dos animais era usada como recheio dos
salgados vendidos na lanchonete.
Em 2014, um adolescente de 17
anos foi resgatado em Mangaratiba, na Costa Verde. Ele trabalhava
exaustivamente e não recebia refeições - era alimentado com pastéis. O jovem
recebeu R$ 90 mil de indenizações trabalhistas.
Em março, três chineses foram
localizados em pastelaria em Copacabana, zona sul. “Não falam sequer o
mandarim, mas um dialeto. A comunicação é muito difícil”, disse a procuradora
Juliane Mombelli.
Fernandes afirma que não há como
fazer ofensiva nas pastelarias. “São muitos estabelecimentos, espalhados por
todo o Estado. Agimos em cima de denúncias.” Segundo ele, o MPT prepara
cartilha em mandarim para distribuir em pastelarias, como forma de informar os
chineses sobre seus direitos.
Por Clarissa Thomé