A reunião comemorativa dos 35 anos do PT não
conseguiu impressionar pelo entusiasmo que se esperaria de quem, há poucas
semanas, venceu pela quarta vez a eleição presidencial.
É compreensível. Os resultados colhidos até agora são muito ruins para a
presidente reeleita e seu partido.
A economia vai de mal a pior literalmente; a derrota da presidente na
eleição para a presidência da Câmara realizou o pior dos temores; as revelações
intermináveis da corrupção na Petrobrás são estarrecedoras; a pressão pela
substituição da diretoria da Petrobrás criou situações constrangedoras para a
presidente Dilma e para Graça Foster; as ameaças trazidas por novas
investigações no exterior e pelos processos movidos por acionistas da Petrobrás
nos EUA são obviamente muito preocupantes; o anúncio das medidas econômicas de
seu governo teve o efeito de um placebo e ainda açulou a resistência do PT ao
ministro do mercado; o aumento do custo da energia elétrica e do combustível,
assim como o seu conhecido efeito sobre o custo de vida e sobre o índice da
inflação, fez a crise que a presidente minimiza chegar ao bolso do cidadão;
fala-se abertamente de uma relação conturbada entre Lula e Dilma; e os resultados
da última pesquisa Datafolha confirmaram que o povo parece ter esgotado sua
paciência e tolerância com erros, malfeitos e desculpas e explicações dos
governantes.
Em nada ajuda a revelação da incompetência e imprevisão das autoridades
públicas de todos os níveis na questão da falta de água, sobretudo em São
Paulo, e do risco de apagão em relação ao qual o ministro Eduardo Braga das
Minas e Energia, a cada fala sua, consegue aumentar mais ainda a
intranquilidade. Em São Paulo, o desgaste sobrou também para o governador
Alkmin e o prefeito Haddad, segundo a mesma pesquisa.
Lula, no seu discurso por ocasião do aniversário do PT, parece ter dado
o sinal para a reação a este quadro. Convocou o PT para as ruas, para defender
o PT e o governo. O problema é que nem Lula, nem Dilma, nem Rui Falcão, e nem
mesmo a maioria da militância do PT, admite reconhecer erros. Para eles, erros
são os outros que cometem.
A técnica da vitimização é usada em todos os níveis do partido, por
todos os seus líderes e para qualquer hipótese. O excesso de uso desta técnica,
e os casos em que chega a ser absurdo seu uso, a desgasta e em breve vai
torná-la universalmente ineficiente.
A vitimização é a contrapartida para situações de dificuldade, da
euforia descabida e mentirosa, usada para situações favoráveis com aquela
expressão que Lula tornou corrente: “Nunca antes na história deste país...”.
Ambas são produto do exagero do marketing político defensivo ou ofensivo.
Este é um momento delicado para o governo e partido. O desafio agora é
enorme. O partido, Lula e a presidente gastaram as sobras e agora que precisam
mais não há reservas.
Não se trata mais de ‘tirar coelho da cartola’. Este número o povo já
viu várias vezes e não se espanta mais. Se o mágico insistir em coelhos vai ser
vaiado. Para ser aplaudido neste momento, o mágico terá que tirar rinoceronte
da cartola.
Dr. Francisco Ferraz