segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

MARQUETEIRO FATURA ALTO NOS GOVERNOS DO PT E JÁ É CONSIDERADO O “MINISTRO DA PROPAGANDA”

O marqueteiro de Lula da Silva e Dilma Rousseff, João Santana Filho, ex-repórter das revistas “Veja” e “IstoÉ”, é uma espécie de petelólogo — especialista em campanhas para o PT e para esquerdistas de outros países. Ajudou a ganhar sete eleições para presidente da República, no Brasil e no exterior: três para o PT (Lula e Dilma Rousseff duas vezes), em El Salvador (Mauricio Funes), na República Dominicana (Danilo Medina), Angola (José Eduardo dos Santos) e Venezuela (Hugo Chá­vez/Nicolás Maduro). Gostando ou não de seus métodos, é mesmo um fenômeno.
Na campanha de Dilma Rousseff em 2014, na qual teria se comportado como “ministro da Propaganda” — insinuação de que seria o Joseph Goebbels baiano, o que, claro, não é —, João Santana, com as empresas Polis Propaganda e Marketing e a Digital Polis Propaganda e Marke­ting, faturou 60,5 milhões de reais. Nas últimas eleições, entre 2006 e 2014, o marqueteiro recebeu 158 milhões de reais do PT. Em Angola, faturou 65 milhões de dólares. Ele é dono de empresas de marketing na Argentina, Panamá, El Salvador e República Dominicana. Estima-se que, em aplicações e imóveis, João Santana tem 50 milhões de dólares. “Para mais”, disse o escritor e marqueteiro baiano Marcelo Simões, amigo do xodó de Lula e Dilma, ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho, autor do recém-lançado “João Santana — Um Marqueteiro no Poder” (Record, 251 páginas). Trata-se de um perfil biográfico.
O marqueteiro mais vitorioso dos últimos anos é, segundo sua mulher, Mônica Moura, “completamente inepto para coisas práticas. Se não prestar atenção, sai com uma meia de cada cor”. O publicitário Nizan Guanaes sintetiza-o: “O João Santana é um cara que sabe se colocar. Paixões à parte, o João cumpriu o papel dele. Se as pessoas acham que a campanha foi pesada (e ela foi) e que ela foi bruta (e ela foi), tem que ver os filmes negativos das campanhas americanas. Marketing político é UFC. O marqueteiro tem que ter estômago e os candidatos também. Eu não tenho. João Santana tem, e gosta. Por isso ele é o Anderson Silva”.
O historiador Marco Antônio Villa, autor do livro “Um País Partido — 2014: A Eleição Mais Suja da História” (Leya, 224 páginas), sustenta que o embate eleitoral entre a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves, foi o menos limpo da política brasileira. A eleição em que o paulista Júlio Prestes e o gaúcho Getúlio Vargas se enfrentaram talvez tenha sido uma das mais sujas, se não a mais suja, do País. Tanto que, rejeitando o resultado do pleito — as fraudes eleitorais ocorreram dos dois lados —, o Rio Grande do Sul, com Vargas, e Minas Gerais, com Antônio Carlos de Andrada, articularam, com o apoio dos tenentes, a Revolução de 30. Vale lembrar que, além de amplamente suja, a disputa provocou mortes, como a de João Pessoa, na Paraíba.
A eleição de 2014 foi de fato suja, com os marqueteiros contribuindo para a “poluição” geral do ambiente, ao apimentar denúncias mais requentadas do que quentes. Nas e fora das redes sociais, Aécio Neves, Dilma Rousseff e, em menor escala, Marina Silva não fizeram uma campanha limpa. Os ataques foram quase sempre abaixo da linha de cintura. Fala-se, mas sem provas, que o ex-guerrilheiro Franklin Martins comandou os ataques mais virulentos a Aécio Neves. A se aceitar esta tese, João Santana, pelo menos na guerrilha mais contundente nas redes sociais, estaria subordinado a Franklin Martins. Um publicitário contrapõe: “Joãozinho Malvadeza, capaz das maiores doçuras e das maiores maldades, não se submete ao Franklin e nem a qualquer outro lua vermelha do PT. Para que seu candidato seja eleito, é capaz de tudo. Franklin é ‘frango de granja’ perto do marqueteiro baiano”.
Além do perfil biográfico, lacunar porque em construção, Maklouf publica uma entrevista de Santana, na qual ele bate duro, às vezes, como um boxeador mexicano, colocando gesso endurecido nas luvas. O marqueteiro chama os tucanos e aliados de “derrotados fanfarrões”. A campanha de Aécio Neves é apontada como tendo “feito uso amador da mediocridade. O marketing de Aécio fez uma das campanhas presidenciais mais medíocres, do ponto de vista criativo e estratégico, que o Brasil já viu”. Paulo Vasconcelos, o marqueteiro do tucano mineiro, é apresentado como migrando da segunda para a terceira divisão.
Santana é dado à filosofice, mas sem deixar de ser um pragmático absoluto, apesar de certo misticismo — acredita que tem alguma ligação espiritual com o físico desaparecido Ettore Majorana (maluquice ou idiossincrasia). Ele acredita que tanto Aécio Neves quanto Marina Silva parecem acreditar “em uma falsa teoria implantada no marketing político brasileiro de que ‘quem bate, perde’. Perde quem não sabe atacar. Como também perde quem não sabe se defender”. Seguindo sua ideia, o tucano e a candidata do PSB “não souberam bater certo nem se defender de maneira correta”.
Tucanos dizem que a campanha de Dilma Rousseff foi “sórdida”, com ataques de baixo nível, sempre de maneira agressiva. Santana discorda: “as pesquisas do final do segundo turno” mostraram “que a maioria das pessoas achava que era Aécio quem estava fazendo a campanha mais agressiva”.
Para Santana, “em determinados momentos de uma campanha, é mais tático você influenciar os adversários do que influenciar o eleitor”.
Santana admite que, como outros marqueteiros, também “manipula”. “Não pode é dizer que o PT é mestre da manipulação. Todos manipulam, todos persuadem. Existe um fio muito débil que separa a persuasão da manipulação”, filosofa o marqueteiro do petismo. Curiosamente, ele diz uma coisa que, agora, faz parte do ideário de Dilma Rousseff, ao bancar o economista ortodoxo Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda: “Se nós dizíamos, com convicção, que uma política econômica de forte ortodoxia poderia causar retração no emprego e na renda das pessoas, por que Marina [Silva] não disse exatamente o contrário?”
Políticos e parte da intelligentsia patropis “não entendem o papel do marketing”, acredita Santana, que parece um oráculo. “Ou demonizam ou se embasbacam com ele. O maior equívoco é querer separar, como fazem alguns, o marketing, ou a comunicação, da política. O marketing e a publicidade são linguagens da política. Ela e eles são umbilicalmente ligados”, postula o marqueteiro. Eugênio Bucci e Carlos Mello, citados por Maklouf, talvez sejam o contraponto adequado para a fala acima: “O João fez um deslocamento do ideário em favor do marketing. Antes, o bom governo era aquele que fazia. Agora, é aquele que tem a imagem do que faz. Fazer a imagem ficou mais importante do que fazer”.