O
marqueteiro de Lula da Silva e Dilma Rousseff, João Santana Filho, ex-repórter
das revistas “Veja” e “IstoÉ”, é uma espécie de petelólogo — especialista em
campanhas para o PT e para esquerdistas de outros países. Ajudou a ganhar sete
eleições para presidente da República, no Brasil e no exterior: três para o PT
(Lula e Dilma Rousseff duas vezes), em El Salvador (Mauricio Funes), na República
Dominicana (Danilo Medina), Angola (José Eduardo dos Santos) e Venezuela (Hugo
Chávez/Nicolás Maduro). Gostando ou não de seus métodos, é mesmo um fenômeno.
Na campanha de Dilma Rousseff em
2014, na qual teria se comportado como “ministro da Propaganda” — insinuação de
que seria o Joseph Goebbels baiano, o que, claro, não é —, João Santana, com as
empresas Polis Propaganda e Marketing e a Digital Polis Propaganda e Marketing,
faturou 60,5 milhões de reais. Nas últimas eleições, entre 2006 e 2014, o
marqueteiro recebeu 158 milhões de reais do PT. Em Angola, faturou 65 milhões
de dólares. Ele é dono de empresas de marketing na Argentina, Panamá, El
Salvador e República Dominicana. Estima-se que, em aplicações e imóveis, João
Santana tem 50 milhões de dólares. “Para mais”, disse o escritor e marqueteiro
baiano Marcelo Simões, amigo do xodó de Lula e Dilma, ao jornalista Luiz
Maklouf Carvalho, autor do recém-lançado “João Santana — Um Marqueteiro no
Poder” (Record, 251 páginas). Trata-se de um perfil biográfico.
O marqueteiro mais vitorioso dos
últimos anos é, segundo sua mulher, Mônica Moura, “completamente inepto para
coisas práticas. Se não prestar atenção, sai com uma meia de cada cor”. O
publicitário Nizan Guanaes sintetiza-o: “O João Santana é um cara que sabe se
colocar. Paixões à parte, o João cumpriu o papel dele. Se as pessoas acham que
a campanha foi pesada (e ela foi) e que ela foi bruta (e ela foi), tem que ver
os filmes negativos das campanhas americanas. Marketing político é UFC. O
marqueteiro tem que ter estômago e os candidatos também. Eu não tenho. João
Santana tem, e gosta. Por isso ele é o Anderson Silva”.
O historiador Marco Antônio
Villa, autor do livro “Um País Partido — 2014: A Eleição Mais Suja da História”
(Leya, 224 páginas), sustenta que o embate eleitoral entre a petista Dilma
Rousseff e o tucano Aécio Neves, foi o menos limpo da política brasileira. A
eleição em que o paulista Júlio Prestes e o gaúcho Getúlio Vargas se
enfrentaram talvez tenha sido uma das mais sujas, se não a mais suja, do País.
Tanto que, rejeitando o resultado do pleito — as fraudes eleitorais ocorreram
dos dois lados —, o Rio Grande do Sul, com Vargas, e Minas Gerais, com Antônio
Carlos de Andrada, articularam, com o apoio dos tenentes, a Revolução de 30. Vale
lembrar que, além de amplamente suja, a disputa provocou mortes, como a de João
Pessoa, na Paraíba.
A eleição de 2014 foi de fato
suja, com os marqueteiros contribuindo para a “poluição” geral do ambiente, ao
apimentar denúncias mais requentadas do que quentes. Nas e fora das redes
sociais, Aécio Neves, Dilma Rousseff e, em menor escala, Marina Silva não
fizeram uma campanha limpa. Os ataques foram quase sempre abaixo da linha de
cintura. Fala-se, mas sem provas, que o ex-guerrilheiro Franklin Martins comandou
os ataques mais virulentos a Aécio Neves. A se aceitar esta tese, João Santana,
pelo menos na guerrilha mais contundente nas redes sociais, estaria subordinado
a Franklin Martins. Um publicitário contrapõe: “Joãozinho Malvadeza, capaz das
maiores doçuras e das maiores maldades, não se submete ao Franklin e nem a
qualquer outro lua vermelha do PT. Para que seu candidato seja eleito, é capaz
de tudo. Franklin é ‘frango de granja’ perto do marqueteiro baiano”.
Além do perfil biográfico,
lacunar porque em construção, Maklouf publica uma entrevista de Santana, na
qual ele bate duro, às vezes, como um boxeador mexicano, colocando gesso
endurecido nas luvas. O marqueteiro chama os tucanos e aliados de “derrotados fanfarrões”.
A campanha de Aécio Neves é apontada como tendo “feito uso amador da
mediocridade. O marketing de Aécio fez uma das campanhas presidenciais mais
medíocres, do ponto de vista criativo e estratégico, que o Brasil já viu”.
Paulo Vasconcelos, o marqueteiro do tucano mineiro, é apresentado como migrando
da segunda para a terceira divisão.
Santana é dado à filosofice, mas
sem deixar de ser um pragmático absoluto, apesar de certo misticismo — acredita
que tem alguma ligação espiritual com o físico desaparecido Ettore Majorana
(maluquice ou idiossincrasia). Ele acredita que tanto Aécio Neves quanto Marina
Silva parecem acreditar “em uma falsa teoria implantada no marketing político
brasileiro de que ‘quem bate, perde’. Perde quem não sabe atacar. Como também
perde quem não sabe se defender”. Seguindo sua ideia, o tucano e a candidata do
PSB “não souberam bater certo nem se defender de maneira correta”.
Tucanos dizem que a campanha de
Dilma Rousseff foi “sórdida”, com ataques de baixo nível, sempre de maneira
agressiva. Santana discorda: “as pesquisas do final do segundo turno” mostraram
“que a maioria das pessoas achava que era Aécio quem estava fazendo a campanha
mais agressiva”.
Para Santana, “em determinados
momentos de uma campanha, é mais tático você influenciar os adversários do que
influenciar o eleitor”.
Santana admite que, como outros
marqueteiros, também “manipula”. “Não pode é dizer que o PT é mestre da
manipulação. Todos manipulam, todos persuadem. Existe um fio muito débil que
separa a persuasão da manipulação”, filosofa o marqueteiro do petismo.
Curiosamente, ele diz uma coisa que, agora, faz parte do ideário de Dilma
Rousseff, ao bancar o economista ortodoxo Joaquim Levy para o Ministério da
Fazenda: “Se nós dizíamos, com convicção, que uma política econômica de forte
ortodoxia poderia causar retração no emprego e na renda das pessoas, por que
Marina [Silva] não disse exatamente o contrário?”
Políticos e parte da intelligentsia patropis “não
entendem o papel do marketing”, acredita Santana, que parece um oráculo. “Ou
demonizam ou se embasbacam com ele. O maior equívoco é querer separar, como
fazem alguns, o marketing, ou a comunicação, da política. O marketing e a
publicidade são linguagens da política. Ela e eles são umbilicalmente ligados”,
postula o marqueteiro. Eugênio Bucci e Carlos Mello, citados por Maklouf,
talvez sejam o contraponto adequado para a fala acima: “O João fez um
deslocamento do ideário em favor do marketing. Antes, o bom governo era aquele
que fazia. Agora, é aquele que tem a imagem do que faz. Fazer a imagem ficou
mais importante do que fazer”.