Autoridades e especialistas não têm dúvidas de que facção
investirá recursos e material humano para apoiar candidatos simpáticos ao
sistema prisional nas eleições deste ano
Com o
controle de 90% da massa carcerária paulista e a hegemonia dos negócios do
crime (tráfico de drogas e roubos contra o patrimônio), o Primeiro Comando da
Capital (PCC) está agora colocando um pé na política. Autoridades e
especialistas não têm dúvidas de que nas eleições deste ano a facção investirá
recursos e material humano para apoiar candidatos simpáticos ao sistema
prisional.
O
principal indício da busca de espaço político está em um pequeno trecho da
denúncia formalizada contra a cúpula da facção, no ano passado, pelo Ministério
Público de São Paulo. As decisões foram tomadas pelos líderes, presos em
Presidente Venceslau, e estão documentadas em quase 900 páginas do inquérito,
onde sobram evidências de que o PCC – conforme escrevem os promotores com base
em transcrições de conversas telefônicas – busca “aproximação com políticos e
autoridades”.
“Soriano
(Roberto Soriano, um dos cabeças da facção) diz que vão usar essa eleição para
adquirir experiência”, relatam os promotores, de acordo com diálogos travados
às vésperas do pleito de 2010, nos quais os chefões da facção conversam sobre a
possibilidade de eleger um deputado.
O
candidato seria um homem ou uma mulher vinculado à “sintonia dos gravatas”, que
é como eles chamam os advogados que trabalham para a facção. Os presos avaliam
que o importante é não dividir forças e recomendam o envio de um “salve”,
ordenando que todos os detentos provisórios com direito a voto se unam em torno
do candidato recomendado. A mesma ordem também vale para as favelas onde o PCC
tem influência.
Na
transcrição, Soriano conversa por celular com outro preso, Francisco Tiago
Augusto Bobo, conhecido como Cérebro, e diz que um terceiro detento, a quem
trata por Veinho e Barbará (Cláudio Bárbara da Siliva), “vai encostar em você
mais tarde, a respeito daquelas ideias que vai (sic) precisar de um apoio e tal
daquela pessoa que a gente vai tentar colocar uma cadeirinha lá (pode ser na
Assembleia Legislativa de São Paulo), daquela caminhada da política... O
Barbará vai ligar para você pra pedir um apoio... ligar (também) para o Renatinho
(Fábio Santos de Oliveira) porque no final de semana vai chegar um salve na rua
pro Mateus dos gravatas (setor dos advogados). Aí pede para ele no que ele
pedir, porque vai fazer aquele apoio na favela”.
Em
outro diálogo, de agosto de 2010, outro preso, Judeu, também conhecido por Cego
(Daniel Vinicius Canonico), diz para Soriano que "o Boca de Ovo (Abel
Pacheco de Andrade) mandou uma carta referente a uma caminhada do negócio do
voto... Ele (Abel) sugeriu uma gravata. Se não desse certo essa gravata seria
um outro”.