sábado, 19 de julho de 2014

GRAMPO REVELA QUE PCC TEM UM PÉ NA POLÍTICA


Autoridades e especialistas não têm dúvidas de que facção investirá recursos e material humano para apoiar candidatos simpáticos ao sistema prisional nas eleições deste ano

Com o controle de 90% da massa carcerária paulista e a hegemonia dos negócios do crime (tráfico de drogas e roubos contra o patrimônio), o Primeiro Comando da Capital (PCC) está agora colocando um pé na política. Autoridades e especialistas não têm dúvidas de que nas eleições deste ano a facção investirá recursos e material humano para apoiar candidatos simpáticos ao sistema prisional.
O principal indício da busca de espaço político está em um pequeno trecho da denúncia formalizada contra a cúpula da facção, no ano passado, pelo Ministério Público de São Paulo. As decisões foram tomadas pelos líderes, presos em Presidente Venceslau, e estão documentadas em quase 900 páginas do inquérito, onde sobram evidências de que o PCC – conforme escrevem os promotores com base em transcrições de conversas telefônicas – busca “aproximação com políticos e autoridades”.
“Soriano (Roberto Soriano, um dos cabeças da facção) diz que vão usar essa eleição para adquirir experiência”, relatam os promotores, de acordo com diálogos travados às vésperas do pleito de 2010, nos quais os chefões da facção conversam sobre a possibilidade de eleger um deputado.
O candidato seria um homem ou uma mulher vinculado à “sintonia dos gravatas”, que é como eles chamam os advogados que trabalham para a facção. Os presos avaliam que o importante é não dividir forças e recomendam o envio de um “salve”, ordenando que todos os detentos provisórios com direito a voto se unam em torno do candidato recomendado. A mesma ordem também vale para as favelas onde o PCC tem influência.
Na transcrição, Soriano conversa por celular com outro preso, Francisco Tiago Augusto Bobo, conhecido como Cérebro, e diz que um terceiro detento, a quem trata por Veinho e Barbará (Cláudio Bárbara da Siliva), “vai encostar em você mais tarde, a respeito daquelas ideias que vai (sic) precisar de um apoio e tal daquela pessoa que a gente vai tentar colocar uma cadeirinha lá (pode ser na Assembleia Legislativa de São Paulo), daquela caminhada da política... O Barbará vai ligar para você pra pedir um apoio... ligar (também) para o Renatinho (Fábio Santos de Oliveira) porque no final de semana vai chegar um salve na rua pro Mateus dos gravatas (setor dos advogados). Aí pede para ele no que ele pedir, porque vai fazer aquele apoio na favela”.
Em outro diálogo, de agosto de 2010, outro preso, Judeu, também conhecido por Cego (Daniel Vinicius Canonico), diz para Soriano que "o Boca de Ovo (Abel Pacheco de Andrade) mandou uma carta referente a uma caminhada do negócio do voto... Ele (Abel) sugeriu uma gravata. Se não desse certo essa gravata seria um outro”.