Ninguém gosta dos black blocs exceto eles próprios. Cheguei a
essa conclusão depois de ver Dilma, pelo Twitter, condená-los pelo ato
“covarde” de bater num coronel da PM. Segundo Dilma, eles têm protagonizado
cenas de “barbárie”.
Você lê o Globo e a Veja e lá estão eles, atacados como
vândalos, baderneiros, criminosos, bandidos etc.
A direita e a
esquerda estão unidas no ódio aos black blocs por
diferentes razões. Para a direita, eles são um incômodo porque denunciam
escandalosamente a desigualdade social brasileira.
Para a
esquerda, especificamente a ligada ao PT, eles são um incômodo porque mostram
que não estão satisfeitos com os avanços sociais feitos nos últimos dez anos
por governos petistas. Em conseqüência, atrapalham a marcha de Dilma rumo ao
segundo mandato.
No meio do
calor das discussões parece ficar de lado uma questão crucial: por que
irromperam na cena brasileira estes mascarados pouco amistosos e extremamente
combativos?
Sem responder
a isso a polêmica em torno dos black blocs é
estéril. Os black blocs são os filhos não amestrados da iniquidade. Poucos dias
atrás, uma militante do grupo concedeu uma entrevista cândida à BBC Brasil,
republicada pelo DCM.
Ela contou que
virou black bloc por causa da “concentração de renda”. Não viu nos partidos políticos
convencionais nada que a interessasse.
Eis o ponto.
O PT, com as
alianças no poder em busca da “governabilidade”, deixou de ser atraente para
jovens inconformados, idealistas, indignados com tanta miséria no Brasil.
Eles querem
algo novo. E é então que entram em cena os garotos do Passe Livre e do Black
Blocs. Ao contrário de outros grupos que poderiam e talvez deveriam estar
protestando nas ruas – sindicatos e UNE, por exemplo – eles não têm o rabo
preso com o PT.
Querem que o
Brasil melhore socialmente – com PT ou sem PT. Por isso são tão detestados pelo
PT.
A emergência
dessa nova categoria de manifestantes – que não têm nada a ver com os demagogos
que falam em “corrupção” para comover a classe média como já aconteceu em 1954
e 1964 — mostrou uma coisa. O Brasil pede um partido de esquerda que
represente, hoje, o que o PT foi em seus primeiros tempos.
O PT poderia
caminhar mais para a esquerda e atender aos anseios dos neomanifestantes? Eis a
grande questão. Pessoalmente, não acredito. Os compromissos em nome da
“governabilidade” tornam virtualmente impossível fazer alguma coisa muito
diferente do que se fez nos últimos dez anos.
Como proteger
os índios decentemente, para ficar num só caso, se alianças com ruralistas são
vitais para que o governo toque a sua vida?
Uma coisa
parece certa: a Rede Sustentabilidade não é a novidade que os inconformados das
ruas pedem. Mudam os personagens, mas os compromissos permanecem: Marina jamais
falou em aumentar o imposto dos mais ricos porque vai depender deles para
tentar se eleger.
Spinoza dizia sobre certas
coisas que o importante não era gostar ou desgostar delas, mas entendê-las. Ninguém parece estar
entendendo os black
blocs.
Querem que
eles sumam? Experimentem reduzir a desigualdade social que está na origem
deles.
O resto é
silêncio, como escreveu Shakespeare.
Paulo
Nogueira é
jornalista, baseado em Londres, e fundador e diretor editorial do site de
notícias e análises Diário
do Centro do Mundo.