sábado, 15 de junho de 2013

NUNCA PERMITA QUE SEU ADVERSÁRIO O DEFINA PARA OS ELEITORES


No início da campanha, à exceção daquele eleitor que já tem o seu candidato definido, a maioria dos eleitores ainda não tem uma definição de voto. Esta é uma decisão a ser tomada ao longo da campanha.

No dia da eleição, o eleitor vota em quem ele acredita conhecer o suficiente para merecer o seu voto. Uma coisa é certa: entre uma data e outra o eleitor vai procurar, com maior ou menor grau de interesse, formar um juízo sobre os concorrentes e escolher um.

Há pois uma convergência de interesses entre eleitor e candidatos: o eleitor quer conhecer os candidatos e estes querem tornar-se conhecidos do eleitor. Mas a convergência termina nesta genérica e abstrata intenção.

Começada a campanha, cada candidato esforça-se para tornar-se conhecido pelas virtudes e qualidades que sua propaganda promove, e, ao mesmo tempo, tenta, por todos os meios ao seu alcance, definir seus adversários para o eleitor à sua maneira, isto é, negativamente.

Não basta ao candidato promover-se perante os eleitores com a sua propaganda. Todos fazem o mesmo. É preciso também excluir. Excluir radicalmente pela propaganda negativa, demonstrando a desqualificação do adversário para o cargo, ou excluir pelo exercício da comparação, demonstrando a sua superioridade em relação a ele.



O que está em jogo, o que se disputa numa eleição é, portanto, a capacidade de, persuasivamente, definir a própria candidatura para o eleitor, de maneira a que ele a conheça, entenda, e venha a com ela se identificar, e, se possível, ter o poder de definir seu adversário para os eleitores. Quem consegue esta proeza ganha a eleição, porque, na prática, é como se ele fosse aceito pelo eleitor como um conselheiro em quem confiar, para decidir seu voto.

Por isso, todo cuidado é pouco. Quando um candidato ataca seu adversário num debate, ele está em busca de um tipo de reação (ou não reação) que seja percebida pelo eleitor como uma evidência da sua insegurança, desequilíbrio, descontrole, covardia ou de outro atributo negativo.

Erros factuais, informações imprecisas, contradições, às vezes com referência a questões de menor importância, são exploradas para que o eleitor as perceba como indicadores da desqualificação técnica, de despreparo para a função. Muitas vezes, uma sucessão de erros aparentemente pequenos e irrelevantes, e que por isso mesmo não são imediatamente corrigidos, podem abalar gravemente a seriedade da candidatura.

São circunstâncias como estas que torna a campanha eleitoral uma experiência limite para qualquer pessoa. O candidato está sempre sob a observação da mídia, dos adversários e dos eleitores. Critica-se muito que a publicidade torna o candidato um objeto, que o manipula tornando-o artificial. Ainda que seja verdade em certos casos, quando generalizada, a crítica é superficial e injusta.

A própria "estrutura da situação" impõe um severo controle sobre a espontaneidade do candidato. Suas declarações, atitudes, contatos sociais, em todos os contextos em que convive, estão sendo permanentemente escrutinadas pela mídia, pelos adversários e pelos eleitores.
Há um preço que se paga por ser diferente dos outros.

Cezar com sua indiscutida sabedoria política já dizia: "O que é permitido a uns não o é a outros. Os que vivem na obscuridade podem cometer faltas por excesso temperamental. Poucos os conhecem(...) Mas os que investidos em altas funções passam a vida em evidência, nada fazem que não caia logo no conhecimento público. Assim, quanto mais elevada a posição social e política, menor a liberdade." (Júlio Cezar)

Ter sua candidatura definida pelo adversário equivale à derrota na campanha, que antecede a derrota nas urnas. Para evitar esta situação é que se insiste tanto no "foco" da campanha. É a campanha focada, que amarra imagem, propostas, biografia, publicidade e estratégia em torno da razão maior(para os eleitores), que justifica e define a candidatura para os eleitores.


O foco da candidatura é que assegura a identidade da campanha

Nas palavras de James Carville, coordenador da campanha de Clinton em 1992:"Uma campanha política é um busca constante de auto-definição da própria candidatura. Uma incapacidade de definir-se a si mesmo permite que os outros o definam".

Sem um tema central para a candidatura (foco) o candidato fica sujeito a constantes mudanças no perfil da sua candidatura. Novos fatos fazem com que ele abandone seu tema central em troca das novidades. De mudança em mudança, a identidade do candidato fica cada vez mais difícil de ser retida pelo eleitor.

A mídia não está interessada em repercutir a sua mensagem porque ela permanece a mesma e para a repetição (sua arma para fixá-la, junto aos eleitores) a mídia não destina espaços. A mídia está interessado no fato novo, na variação, por isso funciona como uma pressão para diluição do foco. Nada lhes atrai mais do que "pautar" os candidatos, afastando-os da monótona (para ela) repetição da sua mensagem.


É, pois, o foco da candidatura que assegura a sua identidade e garante que é você quem decide como se definir para os eleitores. Este foco não apenas deve ser desenvolvido estrategicamente, como mantido, repetido e defendido da tentativa de seus adversários de desqualificá-lo.

Dr. Francisco Ferraz