A moderna prática política mostra que é preciso continuar com ações de
campanha mesmo fora do período eleitoral.
Entre nós, como os mandatos têm a duração de 4 anos, consolidou-se uma
tendência para postergar as ações de campanha, para o último ano. É preciso sempre pensar no mandato como se fosse uma "Campanha
permanente".
A moderna
prática política (sobretudo nos EUA, onde as eleições para a renovação de todos os mandatos da Câmara dos
Representantes – deputados- ocorrem a cada dois anos) desenvolveu o conceito de
“campanha permanente” que corresponde
às ações de campanha eleitoral realizadas durante o período não eleitoral.
É óbvio que a campanha permanente é completamente
diferente da campanha eleitoral propriamente dita. Não existe – nem poderia existir-
aquele clima típico de campanha. O eleitor retornou à sua condição de cidadão,
e está mais preocupado com o que os governantes estão fazendo ou vão fazer, do
que com a próxima eleição.
Por outro lado, a campanha permanente não se
reduz às convencionais ações de publicidade de governo (marketing
institucional) ou do zelo em divulgar pela mídia as realizações, os projetos de
lei, as posições políticas sobre questões correntes.
Campanha permanente é muito mais. Campanha permanente é, acima de
tudo, uma campanha, isto é, um projeto de poder (eleição, reeleição)
articulado, planejado e executado, respeitando as peculiaridades de um período
não eleitoral.
O que define e caracteriza a campanha permanente
é :
·
Atitude pessoal;
·
Ações de campanha;
·
Comunicação com os indivíduos, como eleitores.
Atitude pessoal: manter a perspectiva eleitoral
O mundo parece diferente depois de conquistar o
poder. Seja em modernos palácios de mármore e vidro, em prédios antigos
restaurados, ou em simples casas e edifícios, adaptados para servir de sede a
órgãos públicos.
Não importa. Em qualquer um deles a “magia do
poder” está em curso, destacando o eleito do comum dos mortais, levando-o a
frequentar pessoas e lugares bem diferentes dos que frequentou na busca de
votos, e dando-lhe uma sensação de segurança – a próxima eleição ainda está
muito longe.
O mundo do poder é uma redoma protetora. Fora
dela, longe dela, estão os eleitores. Redoma protetora, mas também atraente e
confortável. Tudo está à mão: assessores, a mídia, o circuito dos coquetéis, as
reuniões com pessoas importantes, as viagens, e o trabalho, com a agenda sempre
congestionada.
Tudo então conspira para que você se afaste, cada
vez mais daqueles que trabalharam por você e dos que o elegeram. Esses últimos,
agora podem esperar... Você tem coisas muito mais importantes a fazer do que
encontrá-los, ouvir suas queixas e pedidos, arbitrar seus pequenos conflitos,
envolver-se com seus problemas. Quando der tempo você vai ao encontro deles...
Aí reside o perigo. Se você se esquecer do seu pessoal, se você colocar sua base
política em segundo plano, não se iluda, eles vão perceber, e vão lhe dar o
“troco” na próxima eleição.
Por isso, a primeira providência da “campanha
permanente” é não perder a perspectiva eleitoral. Esta é uma atitude pessoal que se traduz na seguinte regra: “Não importa que você recém se
elegeu, você continua em campanha”.Ora, se você continua em campanha,
significa que ninguém é mais importante que o eleitor, que o eleitor precisa
ser conquistado, e que ele somente é conquistado pela comunicação, contato e
persuasão. Por mais importantes que sejam as autoridades políticas e sociais,
com as quais você convive, seus eleitores, os que já possui e os que pode vir a
conquistar, são mais importantes.
Ninguém é mais importante que o eleitor, conquistado pelo contato, comunicação
e persuasão
Só pode pensar assim quem está em campanha. Quem está em “recesso eleitoral” até a nova eleição, vai preferir o
convívio com as autoridades.
Você usará seu mandato ou nomeação, então, para
cumprir o que foi prometido, para realizar um trabalho que o credencie. Mas
você também usará seu mandato para fazer o seu trabalho político junto aos
eleitores. Esta é a atitude
vencedora da próxima eleição. Quem a segue leva uma vantagem enorme sobre
aqueles que a ignoram.
Ações de campanha, compatíveis com o
momento
Adotado o primeiro postulado, você “está em
campanha”. Não terá dificuldades, pois, para conceber o seu trabalho político
como “ações de campanha”.
É claro que seu mandato é longo, cobre 4 anos, e
passará então por vários momentos. Para cada um destes momentos, há ações de
campanha adequadas e compatíveis. Mas que fique bem claro, são ações de
campanha, isto é, atividades que visam fixar os apoios que você já possui e
ampliar o espectro dos eleitores potenciais.
Comunicação com os eleitores
Ainda
não é eleição, mas você deve pensar nos indivíduos como eleitores. Nada do que foi sugerido pode ser feito, sem estabelecer-se um
sistema continuado e eficiente de contato com o eleitor.
Na campanha permanente, como na campanha
eleitoral, a chave do sucesso está na comunicação
com o eleitor. Terminada a eleição, muitos pensam que o indivíduo despe a
roupagem de eleitor para vestir a de cidadão. Nada mais equivocado. Nas
democracias modernas, nem os políticos eleitos, nem a mídia permitem que isso
aconteça. O indivíduo é continuamente lembrado de sua condição de eleitor.
O julgamento de uma administração não espera o
fim do mandato para ser feito. Ao contrário, o cidadão é estimulado, desde o
início do novo período de governo, a formar seu julgamento – contra ou a favor
- pelas mesmas forças que recém disputaram a eleição.
Somente um contato próximo com o eleitor enseja
ao político acompanhar esta dinâmica, tirar partido dela, ou dela defender-se.
É durante o período de mandato que as imagens serão construídas e consolidadas,
e a temática da próxima eleição será fixada.
Estes três fatores são indispensáveis à
sustentação de uma campanha permanente. Ao adotá-los, quando chegar o momento
da campanha eleitoral propriamente dita, ela já terá sido em grande medida
antecipada e preparada, dando ao candidato que os praticou uma vantagem inicial
considerável, sobre seus adversários.
Francisco Ferraz - Cientista Politico