Falar em público não é apenas falar alto para todos
ouvirem. Falar em público é sustentar um outro tipo de comunicação, diferente
da maneira usual. Não é por outra razão que desde os clássicos gregos a
oratória foi tratada como uma disciplina a ser ensinada e uma arte a ser praticada
pelos políticos.
O que torna o ato de falar em
público uma arte é que nele, contrariamente à representação teatral, o conteúdo
da comunicação é variável, de livre determinação do orador e o interesse da
platéia não está previamente assegurado por sua mera presença. Conseguir ser
ouvido, reter a atenção, emocionar pessoas e persuadí-las com argumentos são
desafios que se renovam sempre, na medida em que muda a platéia. Alguns
conselhos básicos, extraídos da experiência prática são sempre úteis:
1. Saiba
o que quer falar: Decida antes exatamente o que você quer dizer
para aquele público. Essa será a mensagem que você deseja que eles levem na
cabeça depois que terminar o ato. Organize o discurso mentalmente em torno
daquela idéia e apresente-a clara e convincentemente. Ela deve receber um
destaque no discurso equivalente à força persuasiva que você deseja que ela
tenha a seus ouvintes.
2. Seja
relevante para o público que o ouve: Um político em
campanha fala para múltiplos públicos. E cada um é sempre diferente do outro.
Isto não significa que você deva mudar a sua mensagem, o seu discurso básico (Atenção:
a repetição é um defeito na comunicação pessoal, mas uma qualidade na
comunicação política). Significa, isso sim, que você deve adaptar seu discurso
- relevância dos assuntos que vai abordar, tempo, eloqüência, tipo de
linguagem, recursos de oratória (humor, narrativa, dramaticidade) para aquele
público específico e real diante de você.
3. Crie
o clima para lançar sua idéia ou argumento: A idéia central não
pode ser tratada de golpe, subitamente. Ela exige que você faça uma preparação
prévia, crie o clima para que ela seja apresentada no momento certo para
produzir o efeito desejado. A criação do clima pode ser feita apresentando
estatísticas - poucas, simples de lembrar e contundentes - ou contando uma
história, usando um fato recente de conhecimento do público ou, ainda,
dramatizando o problema para dar atrativo à solução.
4. Apresente
sua solução: Se você pretende falar sobre um problema, comece
relacionando-o com a vida das pessoas que estão na platéia; valorize o problema
– descreva-o, ilustre-o, apresente exemplos (as pessoas tendem a dar mais
atenção à doença e aos seus sintomas do que à cura). A seguir, faça um diagnóstico
preciso para só depois apresentar a sua solução, da forma mais atraente,
resolutiva, viável e realista que conseguir. Não esqueça de levar as pessoas a
visualizarem os benefícios concretos que advirão da solução que propõe.
5. Crie
uma relação com sua audiência: O ritmo que você der
à sua fala, a repetição de uma expressão ou frase em seqüência para abordar
diferentes temas e as pausas que você deve fazer no discurso devem articular-se
com reações do público, acima de tudo com os aplausos, criando um diálogo entre
você e sua audiência.
6. Fale
olhando para as pessoas: É importante para criar a relação com a
audiência. Alterne o olhar de conjunto com o olhar para diferentes lados da
sala, concentrando em grupos de pessoas e, até, numa delas de maneira focada.
Estes grupos que recebem o seu olhar direto tendem a reagir primeiro à sua fala
e responder com reações que se estendem para o conjunto.
7. Seja
flexível e esteja preparado para surpresas: Toda reunião está
sujeita ao imponderável. O som falha, o público é maior ou menor do que o
previsto, o clima muda, a luz falta, as manifestações da audiência - como
brigas e discussões, o bêbado de plantão, as provocações de adversários etc.
Tenha bom humor, paciência e serenidade. O objetivo é transmitir sua mensagem,
mesmo diante do inesperado.
8. Seja
ouvido: Parece óbvio, mas não é. Reuniões políticas são
também reuniões sociais, nas quais conhecidos se encontram e aproveitam a
oportunidade para conversar. A menos que seu discurso seja feito num contexto
de maior formalidade, a regra será o ruído e a movimentação de pessoas. Gradue
o tom e a intensidade de sua voz de acordo com ele. Mas isso não basta. Se você
falar mais alto, a ponto de as pessoas não se ouvirem quando conversam, elas
também aumentarão o tom. Só há uma saída: você precisa de um mínimo de silêncio
inicial para conquistar a atenção deles. Por isso, encontrar um vínculo
emocional é tão importante.
Atenção! Emocionar
não significa ser piegas. Se você iniciar seu discurso falando sobre um assunto
relevante para eles e que vá ao encontro de um sentimento forte que nutrem
(temor, preocupação, indignação, desejo, esperança etc), você terá maiores
chances de conseguir conquistar a atenção do seu público e ser ouvido.
9. Procure
ser pontual: Pontualidade não tem a ver diretamente com o
discurso em si, mas muito com o estado de espírito do seu público. Pessoas
reunidas por muito tempo, esperando pelo orador tendem a desenvolver uma
má-vontade para com ele. Não é necessária, no caso brasileiro, uma pontualidade
britânica, mas o atraso não deve exceder 30 minutos.
10.
Faça referência pessoal a todos os líderes
locais: As pessoas que se reuniram para ouví-lo foram, na
sua maioria, trazidas por lideranças locais. O momento do encontro com o
candidato é também, para tailideranças, o momento de provar que são figuras conhecidas,
respeitadas e possuem acesso ao candidato. Sua referência a eles - todos,
se algum for omitido ele não esquecerá - é indispensável para que
continuem trabalhando na campanha com entusiasmo.
Cumprimente todas pessoas que conseguir, tanto na entrada, como na saída
Finalmente, a entrada e saída do candidato são também parte do ato público.
Cumprimente o máximo de pessoas ao entrar, sem deixar de avançar em direção ao
local do discurso. Tenha sempre a seu lado um ou mais assessores para receber
bilhetes, pedidos, convites etc. À saída, dependendo do tempo disponível, volte
a cumprimentar todas pessoas que conseguir.
Entregue aos assessores a tarefa de interromper
suas conversas, insistindo que você está atrasado para o próximo compromisso.
Instrua-os para que peçam às pessoas que colaborem, para que você possa cumprir
agenda. Você deve dar a impressão de que tem todo o tempo do mundo para os
interlocutores. São seus assessores que, queixando-se de você ("Se a
gente não forçar, ele não sai daqui, é sempre assim"), conseguirão
tirá-lo da situação, deixando ainda a sensação de que você queria continuar lá,
conversando.