quarta-feira, 2 de março de 2011

A nova militância popular

Por Andrea Lunt

Tradução de Natália Mazotte

Há mais de 200 anos atrás, um dos presidentes fundadores dos Estados Unidos, Thomas Jefferson, fez um famoso comentário: "Cada geração precisa de uma nova revolução". Hoje, suas palavras são mais relevantes do que nunca, já que os jovens em todo o mundo marcam 2011 como um ano de mudanças.

A julgar pelas recentes revoltas no Egito e na Tunísia e pela forte participação na semana passada no Fórum Social Mundial (FSM), em Dakar, no Senegal, o ativismo está vivo e bem.


Para ter um panorama do Forum Social Mundial deste ano e algumas ideias sobre as revoltas recentes, o CASA DE ABELHA falou com Boaventura de Sousa Santos, autor e professor de sociologia da Universidade de Coimbra, em Portugal.


CASA DE ABELHA: Quais foram os destaques do Fórum Social Mundial deste ano?


R: Apesar das dificuldades de organização, este foi um Fórum de sucesso por várias razões. Em primeiro lugar, os problemas da África e sua contribuição para o mundo estiveram no centro do FSM, precisamente ao mesmo tempo em que as pessoas no Cairo comemoravam a libertação e mostravam novas formas de lutar por ela. Este foco na África se tornou uma fonte de inspiração para o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, das Nações Unidas, que é só o começo.

Em segundo lugar, uma quantidade sem precedente de tempo foi reservada às reuniões de convergência entre os movimentos sociais visando ações coletivas planejadas conjuntamente.

Em terceiro lugar, a renovação do FSM está definitivamente na agenda. O objetivo é permitir que demandas políticas avancem globalmente, em nome de setores importantes do FSM - sem comprometer a natureza inclusiva dos encontros mundiais realizados a cada dois anos - e reforçar o próprio ensino e a formação para além das fronteiras nacionais.

CASA: Do marxismo à Via Campesina, os movimentos sociais mudaram e evoluíram ao longo dos anos. Qual é a abordagem mais bem-sucedida para fazer uma mudança real no mundo?
R: As revoltas em Tunis e no Cairo estão mostrando que uma mudança paradigmática na militância de oposição está em curso. Se até agora a questão central para a política progressista foi como articular partidos progressistas com movimentos sociais progressistas e ONGs, a nova questão central é como articular os partidos e movimentos sociais progressistas, de um lado, com os cidadãos não organizados, do outro.