Faz parte do jogo eleitoral e democrático a busca da diferenciação entre os candidatos, sobretudo os candidatos de oposição. Contudo, é preciso ter cuidado, o eleitor não cai mais em promessas vazias. Uma das armadilhas do jogo político para quem representa a oposição é se comprometer em realizar o irrealizável.
As “promessas de políticos” também estão presente em fases do desenvolvimento das chamadas “democracias avançadas”
Candidatos oposicionistas, angustiados para convencer o eleitorado de que, uma vez eleitos, farão mais e melhor que o atual governo, muitas vezes acabam assumindo publicamente compromissos que na prática não há como cumprir. Essa foi uma conduta muito utilizada na política brasileira durante anos a fio, até que se tornou um hábito da população se referir de forma generalizada às “promessas de políticos”.
Entretanto tal prática não é exclusividade do Brasil. Ela esteve presente em fases distintas do desenvolvimento político das chamadas “democracias avançadas”.
A pedagogia democrática
Autores consagrados da Ciência Política, que analisaram o comportamento eleitoral e a construção de democracias sólidas, constataram que, com a repetição dos pleitos eleitorais os eleitores vão observando o desempenho dos governos e amadurecendo seu processo de escolha.
Trocando em miúdos, isso significa que os eleitores aprendem a comparar as promessas e as realizações. Governantes que se afastaram muito do que fora prometido, quando candidatos, acabam sendo punidos eleitoralmente com o voto em outro partido.
Por outro lado, candidatos que apresentam soluções mágicas para todos os problemas, aos poucos vão sendo deixados de lado, obtendo cada vez menos respaldo eleitoral. Isso ocorre porque realmente não há soluções mágicas. O exercício do governo tornou-se algo extremamente complexo nas últimas décadas.
As demandas sociais extrapolam os recursos disponíveis nos orçamentos dos governos e criam sérios limites para seus atendimentos. Os governos, de modo geral, se encontram no dilema formado pela insatisfação da população tanto com a carga tributária quanto com a qualidade dos serviços públicos prestados, o que gera um quadro extremamente contraditório pois exige-se atenção governamental para causas sociais mas espera-se, ao mesmo tempo que a carga tributária no mínimo não seja elevada. Diante desse cenário os limites para a diferenciação entre os candidatos tornam-se mais estreitos.
A oposição eficiente
Candidatos que apresentam soluções mágicas para todos os problemas, aos poucos vão sendo deixados de lado
Embora, como já demonstramos neste site, o eleitor mediano se interesse pouco pela política, a pedagogia democrática brasileira das últimas décadas forneceu uma espécie de “vacina” contra os vendedores de ilusão. Candidatos que se apresentam como “salvadores da Pátria”, afirmando que vão solucionar questões como violência e desemprego, ou que vão elevar substancialmente os salários do funcionalismo e dos aposentados, ou que vão acabar com as filas nos postos de saúde, etc.,tendem a despertar desconfianças na população. O resultado para quem pratica esse tipo de política de promessas vazias pode ter duas formas: derrota eleitoral ou crise permanente de governo.
A derrota eleitoral provém exatamente da percepção por parte dos eleitores de que o que foi prometido não tem a mínima condição de ser posto em prática , uma vez que, bem ou mal, a população percebe as limitações dos governos.
O segundo resultado ocorre quando, mesmo baseados em promessas vazias, os estrategistas de campanha conseguem conduzir a candidatura a vitória. Neste caso ao assumir um governo, constata-se de forma imediata a impossibilidade de realização dos compromissos de campanha e o governo começa a perder rapidamente a popularidade. Com isso, os aliados começam a largar o barco e o governo mergulha na crise e dela não sai mais. Por isso os candidatos de oposição precisam saber conduzir suas campanhas dentro de uma margem estreita que se situa entre a necessidade de diferenciação e a consciência dos limites que serão encontrados ao assumir o governo.
A oposição eficiente é aquela que está apoiada em um diagnóstico aprofundado da situação financeira e das políticas públicas prestadas pela administração a qual se é oponente. De posse de tais diagnósticos os candidatos oposicionistas podem apresentar para a população suas propostas demonstrando de forma clara e objetiva em que pontos seu governo será diferente do atual e quais são as razões para que a oposição seja eleita.
Fernando Ferraz