terça-feira, 1 de junho de 2010

ELEITORES CORRUPTOS.


Por Valmir Nascimento Milomem

Sei que você está acostumado com a expressão “político corrupto”. A bem da verdade, as palavras “político” e “corrupto” há muito tempo não se divorciam em uma frase. Estão sempre coladinhas. Uma perto da outra. Uma ao lado da outra. Onde uma vai, a outra vai atrás. Onde um está, lá está a outra também. No cenário político brasileiro elas formaram um par romântico, tal qual Romeu e Julieta, queijo e goiabada.

Mas não é sobre políticos corruptos que pretendo falar. Sobre esse assunto vários jornais, revistas, noticiários, tablóides, sites, blogs, rodas de bares e mercearias têm se empenhado. Analistas políticos, filósofos, sociólogos, jornalistas, quitandeiros e engraxates tem dado seus pareceres sobre o tema. Com análises complexas eles passam para o leitor um visão detalhada da crise política tupiniquim. Ou, ainda, se quiser o ponto de vista do senso comum, basta ficar na fila de um supermercado ou de um banco que logo surge um “especialista” com suas idéias inovadoras.

Portanto, deixarei os políticos corruptos de lado (Veja bem: políticos corruptos, não a política). Estou casado deles. Meus ouvidos estão estafados. Minha mente estressada. Não gasto energia nem as pontas do meus dedos para escrever sobre isso. Não gasto folhas de papel. Não desperdiço tempo. Não que ache errado; pelo contrário, acho certo falar do errado! Simplesmente deixo para outros esta dura tarefa.

Falemos então sobre a outra face da processo político-eleitoral. A outra vértice do assunto. O outra lado da moeda: o eleitor. Aquele que em tempos de eleição é a última bolacha do pacote. A luz no final do túnel. O prêmio de todo candidato. Mas não é sobre qualquer eleitor; é sobre o eleitor corrupto. Isso mesmo, apesar da palavra “corrupto” viver na “cola” do político, ela não é afeta somente à esta classe.

Dá um presentinho aí!

O fato é que nos acostumamos a analisar basicamente o erros de quem está no poder. As maracutáias do Planalto, os sanguessugas do Congresso ou o paraíso fiscal dos poderosos. Mas vem cá! E sobre os eleitores corruptos, ninguém nada fala? Aquele quem em tempos de eleição bate à porta dos políticos para pedir “uns litros de gasosa”, “uma novilha para o casamento”, “um remédio para a sogra”, “umas cestas básicas”, “umas passagens”, “um bode”, “um emprego” . Sobre isso ninguém comenta nada. Nem uma materinha sequer? Um artiguinho na ponta da revista? Uma frase no jornal. E nas rodas da mercearia, não há uma analista para comentar o tema?
Não nos enganemos.

Tanto o Deputado que surrupia dinheiro público, quanto o eleitor que pede/aceita um pequena ajudinha são farinhas do mesmo saco. Tanto o Prefeito que desvia verbas quanto o eleitor que recebe R$ 50,00 (cinqüenta real (errado, assim mesmo) em troca do seu voto estão incursos no mesmo erro: a corrupção.

Vejamos. Pegue seu dicionário. Folhei-o até a letra “C”. Especificamente na palavra corrupto. Lá estará escrito: Corrupto – aquele que se corrompe; corrompido; depravado; devasso. Para ter um visão mais completa, volte um pouco mais até à palavra corromper; e lá estará escrito: Corromper – Apodrecer; estragar; perverter; viciar; subornar.

Portanto, quando um eleitor aceita o suborno de um determinado candidato, independente do valor, seja de alguns centavos até altas cifras (pois o que importa não é o valor mais a atitude nefasta da pessoa), ele faz a vezes do corrupto passivo, aquele que recebe vantagem de outrem. E como diz o dicionário, tal pessoa está apodrecida, estragada.

O problema, portanto, da assim chamada corrupção brasileira nasce exatamente na camada dos eleitores, entre aqueles que para exercerem seu direito universal ao voto querem levar vantagem, por menor que seja. Não se analisa as proposta dos candidatos, vota-se em quem dá mais. Pouco importa se o candidato figura em uma lista negra, contanto que lhe dê um presentinho, tudo resolvido.

Após um ano trabalhando basicamente com o Direito Eleitoral e lidando com uma grande quantidade de eleitores, cheguei à conclusão de que o corrupção política nasce exatamente entre o “baixo clero eleitoral”. Prova disso foi que recentemente, após a aprovação da minirreforma eleitoral (Lei 11.300/06), na qual os partidos e candidatos ficaram proibidos de distribuir brindes – como camisetas, chaveiros, bonés, canetas -, cestas básicas, ou “quaisquer outros bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor”, bem como proibidos de realizar os showmícios, com a participação de artistas, passei a ouvir uma quantidade enorme de reclamações.
Dos políticos? Não! Não! Dos eleitores corruptos. Segundo eles “tal lei tirou a alegria das campanhas políticas”. Ou como disse determinado eleitor: “Ah, agora é que eu não voto mesmo, não vou ganhar nada em troca”.

Eis aí, portanto, nossos gloriosos eleitores corruptos. Aqueles que pleiteiam, pedem e requerem algo em troca de um votinho. E o interessante é que fazem isso com a maior naturalidade do mundo, com a maior cara de pau, pensam que não estão fazendo nada de errado. Depois, no momento em que surgem escândalos entre os políticos, ele mesmo dizem: – Esse Brasil tá uma vergonha!