terça-feira, 18 de maio de 2010

Como João Paulo ex-Prefeito de Recife, acabou isolado no PT.


Evitar a realização de prévias nem sempre impede os rachas no PT. Basta ver o caso de Pernambuco. Pressões, desencontros, discussões e pesquisa de última hora levaram o ex-prefeito do Recife, João Paulo Lima e Silva, a renunciar à sua natural candidatura ao Senado a favor do ex-ministro da Saúde Humberto Costa. Agora, os grupos se digladiam nos bastidores.

As alas minoritárias do PT solidarizaram-se com João Paulo. Com muito barulho, decidiram aprovar uma moção de repúdio ao governo estadual no encontro do partido e o pedido de renúncia do presidente da legenda em Pernambuco. Tudo para tentar mudar a indicação do nome que comporá a chapa majoritária encabeçada pelo governador Eduardo Campos, do PSB, candidato à reeleição.

O movimento contrário ao grupo de Costa e ao governo estadual é tão aguerrido que o próprio João Paulo emitiu um comunicado no qual reafirma sua disposição de sair da disputa. Na nota, afirma que a decisão foi baseada na pesquisa de intenções de voto feitas pelo instituto Vox Populi, a pedido da direção nacional do PT, na qual aparece empatado na preferência do eleitorado com Costa. Em alguns cenários, o ex-ministro chega a ter 6 pontos porcentuais a mais que o ex-prefeito.

Os números, apresentados em uma reunião marcada pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra, foram um baque para João Paulo e mais um tombo numa sucessão de reveses políticos que começou após seu maior feito: eleger em 2008 como prefeito da capital um secretário municipal pouco conhecido, João da Costa.

Desde a eleição, o atual prefeito iniciou um afastamento lento, gradual e irreversível de seu padrinho político. João Paulo mudou a partir dessa cisão. João da Costa não era apenas seu afilhado, foi seu braço direito por oito anos e integrante de primeira hora do seu núcleo político. Agora, é lembrado pelo ex-prefeito como “um ilustre desconhecido que transformei em prefeito no primeiro turno”.

Mas não foi a única inimizade cultivada pelo ex-prefeito. Convidado pelo governador Campos a ocupar a Secretaria de Articulação Regional, João Paulo deixou o cargo três meses depois da posse de forma pouco amigável. Dois dias depois de entregar a carta de renúncia, convocou a imprensa e informou sua saída. “Eu não tinha condições de permanecer, queriam um secretário submisso e eu não aceitei”, afirma. Nenhum aliado saiu em sua defesa. Só o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que será o candidato da oposição ao governo, aproveitou a oportunidade para faturar politicamente e manifestou-se a seu favor. Era o que João Paulo menos precisava. A relação cordial que mantiveram quando um era governador e o outro prefeito nunca foi bem digerida por petistas e socialistas que consideram Vasconcelos um adversário ardiloso.

A saída de João Paulo do governo fortaleceu o grupo do ex-ministro Humberto Costa. Seu grupo de apoio passou a defender prévias para a indicação do candidato ao Senado. João Paulo foi contra e passou a defender a tese de que a melhor saída seria escolher o nome que mais benefícios trouxesse às candidaturas de Dilma Rousseff e Campos.

Costa valeu-se de outro trunfo. Secretário estadual das Cidades desde o início do governo, manteve-se alinhado com o governador até pedir afastamento do cargo. Aproximou-se de prefeitos do cais ao Sertão e de diferentes correntes partidárias. É difícil encontrar um município pernambucano que não tenha ao menos uma academia da cidade em praça pública.

Faltava apenas uma etapa. Em março, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região, a pedido do Ministério Público, retirou o nome do ex-ministro da Saúde do processo que ganhou repercussão nacional como a Máfia dos Vampiros. A repetição sistemática da denúncia foi a estratégia utilizada pela campanha do então governador Mendonça Filho (DEM)para tirar o potencial eleitoral de Costa na campanha ao governo em 2006. Ele saiu da segunda posição nas intenções de voto para a terceira, no rastro das denúncias de seu suposto envolvimento nas fraudes relacionadas às compras de hemoderivados. Campos foi para o segundo turno e, com o apoio de Costa, venceu as eleições.

A decisão favorável da Justiça foi capitalizada politicamente pelo agora pré-candidato ao Senado. Seu nome apareceu antes, durante e depois da decisão em todas as emissoras, jornais e blogs pernambucanos. Quando a poeira baixou, realizou um ato em desagravo e novamente surfou nas manchetes. Os adesivos “Humberto: Pernambuco de alma lavada” começaram a circular nos carros dos eleitores de primeira hora.

João Paulo foi então convocado a uma reunião com Dutra, o presidente do PT em Pernambuco, Jorge Perez, o prefeito do Recife João da Costa e o ex-ministro. Os resultados apurados pelo Vox Populi foram usados para convencer o ex-prefeito a desistir. “A pesquisa teve o recall dos vampiros”, afirmou o preterido na saída do encontro. Ressentido, colocado contra a parede, se viu sem saída: “Não queria mais continuar sangrando”.

O ex-ministro estava decidido pela realização das prévias no partido e João Paulo acabou intimidado. A possível opinião de aliados ou mesmo do presidente Lula foi considerada por Costa como apenas mais um elemento para a decisão da maioria. O ex-prefeito jogou a toalha. Tardiamente, quem se manifestou surpreso com a decisão foi Lula, conforme revelou em entrevista.

A equação a ser resolvida no PT em Pernambuco é o futuro de João Paulo. Será candidato a deputado federal hoje, mas e depois? Integrante de uma corrente minoritária no partido, sem a preferência de aliados e afastado do centro de decisão, a tendência, segundo vários analistas, é que ele mude de legenda. Ele nega. “Sou homem de projetos e de partido. Só não vou subir no palanque de João da Costa.” Fonte: Carta Capital.