O
professor francês entrevistou espíritos para descobrir as leis que regem o
mundo dos mortos, mas foi no Brasil que seus escritos foram transformados em
religião.
TEXTO Tiago Cordeiro | ILUSTRAÇÕES
Arthur Duarte | 14/10/2014 15h20
Às 22h30 de 17 de setembro de 1865,
apenas oito anos depois da fundação oficial do espiritismo na França, foi
realizada em Salvador a primeira sessão da doutrina no Brasil, liderada por um
jornalista, Luís Olímpio Teles de Menezes. No mesmo ano, surgiu o primeiro
centro do país.
Em pouco tempo, a visão científica,
filosófica e religiosa de Allan Kardec se transformaria em uma religião
tipicamente brasileira, divulgada por intelectuais nas nossas maiores cidades.
Anos antes de ganhar as massas com Chico Xavier, os seguidores de Kardec já
tinham uma nova capital, nos trópicos.
Atualmente, o trabalho iniciado por Kardec tem 13 milhões de
seguidores no mundo. A maioria, 3,8 milhões, está no Brasil. Nossos espíritas
têm os melhores indicadores socioeducacionais dentre os fiéis de todas as
religiões praticadas no país – 31,5% deles têm nível superior completo, segundo
o IBGE. Entre 2000 e 2010, eles saltaram de 1,3% da população para 2%. O
sucesso nos cinemas é resultado da boa imagem da religião: em 2010, Chico
Xavier, a biografia do médium mais famoso do século 20, alcançou 3,4 milhões de
espectadores e Nosso Lar, no mesmo ano, chegou a 4 milhões.
Mas o que explica essa adesão massiva a uma doutrina que se
equilibra entre a religião e a ciência no maior país católico do mundo? “O
Brasil tem uma tradição de religiosidade popular muito aberta ao contato com a
vida após a morte e a comunicação com espíritos. As classes média e alta não
podiam contar com as religiões de origem africana ou indígena como expressões
formais de sua fé. O kadercismo, com seu berço francês, satisfez essa
necessidade”, afirma John Monroe, historiador e professor da Universidade de
Iowa.