Não é novidade a consideração de que a
política, no mundo contemporâneo, passou por uma metamorfose no sentido de sua
“midiatização”. O sentido da palavra “midiatização”, entretanto, na maioria das
vezes não é compreendido com a abrangência devida.
O processo de “midiatização” significa
muito mais do que a ocupação de espaços de propaganda nos veículos de
comunicação. Antes disso, significa “mediar” (mídia = “media” (ingl.);
midiatização= “mediatizzazione” (it.)), ou seja, “passar do (im)ediato ao “mediato”,
do contato direto a representação substitutiva do evento político” .
Numa sociedade de massas, o processo de
comunicação através da mídia de massa “media” o contato dos cidadãos com
eventos com os quais eles não têm contato direto e imediato. Assim, pode-se
dizer que um governo “acontece” em dois planos: o plano “imediato” naquele em que os cidadãos vêem a obra
e percebem diretamente os seus benefícios; e o plano
“mediato”, que é a “representação substitutiva” da obra ou do
evento político.
O segundo
plano dificilmente
se sustenta artificialmente sem o primeiro. Mas o primeiro plano se dissipa e
se dissolve sem o segundo. Os governantes, que vivem no mundo “imediato”, lutam
sempre contra o risco de uma visão distorcida sobre o seu próprio governo. Eles
vêem o governo que “realmente acontece”, mas não necessariamente o governo que
é percebido de maneira mediatizada pelos cidadãos.
Francisco Ferraz