segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Especialistas garatem: política é "negócio" para candidatos famosos
Famosos na política passaram de exceções a figurinhas carimbadas nas disputas eleitorais nos últimos anos. Estilistas, cantores, palhaços, ex-jogadores de futebol ou ex- participantes de reality show povoaram o horário eleitoral gratuito em busca da preferência de eleitores, até então acostumados a candidatos tradicionais e desconhecidos. Na tentativa de explicar essa tendência, especialistas afirmam que a política no Brasil tornou-se um "grande negócio", principalmente para personalidades que perderam sua projeção na mídia ou aqueles que conquistaram fama rápida e não querem largar o osso.
"A entrada na política é uma oportunidade de resgatar ou retomar a sua vida pública", afirma Ana Simão, professora de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). "A política tornou-se um grande empreendimento, tornou-se um negócio. Essas celebridades estão vivenciando momentos críticos em suas carreiras", explica o consultor político Gaudêncio Torquato, professor titular da Universidade de São Paulo (USP).
A conquista do eleitor, segundo Ana Simão, torna-se mais fácil devido à falta de identidade partidária existente no cenário político no País. "No Brasil, existe uma concepção da política que não é uma concepção partidária. O Voto do brasileiro não é um voto do partido, o que favorece que pessoas se candidatem, por diferentes partidos, sabendo que o voto nela não será um voto partidário, mas um voto pessoal. Isso propicia pessoas sem relação com a política a entrar muito bem na vida pública, conseguindo uma grande votação", afirma.
O consultor Gaudêncio Torquato compartilha a análise e acredita, saturados da política tradicional, buscam candidatos diferentes, independente de sua experiência parlamentar. "Como os tradicionais não trouxeram respostas positivas, o eleitor muda o patamar. É uma busca de inovação, de um novo perfil, em torno de uma nova mensagem. É claro que o risco é muito grande. O artista pode ser bom em sua carreira, mas pode ser um mau político. Porém, as celebridades são conseqüência de um processo de incultura política. O erro não está neles. Eles são apenas utilizados como meio para os partidos melhorarem suas performances. O erro é da própria política. Uma política paternalista, patrimonialista, fisiológica e com todas as suas mazelas clássicas", afirma Torquato.
Já para o professor Pedro Paulo Funari, docente titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Centro de Estudos Avançados na mesma instituição, a candidatura de "famosos" é negativa para o processo eleitoral do Brasil. "Pessoas famosas não são mais aptas para representar as pessoas do que as outras. Ao contrário, com o nosso sistema eleitoral, um famoso pode eleger um grande número de desconhecidos e, em potencial, com dívidas na Justiça", diz ele, ponderando que a eleição de celebridades ou subcelebridades não pode ser considerada uma tendência momentânea. "Não é periférica, pois elegem, no nosso sistema, diversos obscuros perigosos. Famosos sempre foram eleitos, apenas hoje isso se tornou mais evidente e ampliado".
SIMONE SARTORI
Direto de São Paulo