quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Entrar na política pela emoção é como entrar na selva sem conhecer as feras e suas armadilhas

Nesse habitat vivem leões e raposas, serpentes, hienas e abutres. E também uma grande variedade de cordeiros. Com estes, você não precisa se preocupar muito. Mas com os primeiros, toda a atenção ainda é pouco.
Não é tarefa fácil sobreviver nessa selva. E, também, impor seu poder em meio a tantos riscos e desafios. Mas já que este é o objetivo, sua primeira missão é conhecer o ambiente selvagem e seus habitantes.

Todo erro de avaliação neste território tem um custo pesado. Se você tratar um leão como raposa, vai se dar mal. Se demorar em perceber uma serpente, vai descobri-la pela picada. O que torna a vida em tal ambiente ainda mais complicada é o fato de que você deve conhecer suas peculiaridades, mas não pode se defender agindo com insegurança e desconfiança crônicas, que levam à timidez, à hesitação permanente e, em última análise, à sua irrelevância política.
Não há saída. O político precisa conhecer a selva e tornar-se um mestre na arte de avaliar as "feras" que vivem nela. O político com uma aguda capacidade de observação e um julgamento maduro e equilibrado governa outros - e não é governado por ninguém. Ele decifra até mesmo aquelas intenções mais secretas, antecipa-se às surpresas, surpreende manobras, conhece os pontos fortes e fracos, sabe os limites das pessoas com quem lida.

O filósofo espanhol Baltasar Gracián já dizia: "Ele não é precipitado nem para amar, nem para crer". A precipitação no julgamento é um sinal de fraqueza e imprudência, que conduzem a situações embaraçosas e desfechos litigiosos. É, sem dúvida, uma grande virtude a capacidade de avaliar as pessoas e decifrar seus temperamentos e sentimentos. O político deve cultivá-la, aprender com os erros - seus e de outros - a ponto de transformá-la num instrumento preciso com o qual se orienta para lidar com os demais. Conhecendo a causa, você pode antecipar os resultados. E estes revelam os motivos.

Os tipos com os quais você vai ter que lidar

O pessimista - Há pessoas que são, por natureza, melancólicas e pessimistas. Estão sempre prevendo desgraças e problemas, sob uma aparência prudente e previdente. São seres que veem sempre o lado ruim, as possibilidades negativas e relutam muito em enxergar oportunidades. Jamais esqueça: você precisa saber distinguir o pessimista do prudente. O pessimista é a caricatura do prudente.

O arrogante - É hiper-sensível e hiper-orgulhoso. Em geral, não é difícil reconhecê-lo, pois sua história de vida já deve estar recheada de exemplos do seu temperamento. É uma temeridade mantê-lo junto de você. Na realidade, só se compromete consigo mesmos. Sua lealdade cobra o alto preço das permanentes manifestações de apreço, prestígio e deferência. Apontar um erro, submetê-lo a uma admoestação, fazer-lhe uma crítica, são para ele crimes de lesa-honra, que exigem vingança como compensação. Afaste-se desse tipo de "fera".
O desconfiado - Outro gênero de pessoa que esconde sua insegurança permanente sob uma aparência prudente. Para ele, ninguém é confiável. No limite, o desconfiado aproxima-se muito do paranoico. Sua capacidade de observação e julgamento está sempre comprometida pela obsessão. A vítima pode variar. A pessoa a quem os "outros" querem prejudicar pode ser ele mesmo - ou você. O alvo da desconfiança também oscila: podem ser outros, mas, também, você...

O passional - É, de certa forma, o oposto do pessimista. Tende a ser monotemático, obsessivo e muito propenso a fantasiar. Apaixona-se por uma ideia ou projeto e não consegue ver as coisas como elas são, somente percebendo aquilo que reforça sua convicção. Sua relação com o real está profundamente comprometida por sua paixão. Não pense que, tendo sido levado a abandonar o projeto que abraçou, ele vai se reconciliar com a sensatez. Se for um verdadeiro passional, em pouco tempo aparecerá com outro projeto, defendendo-o com o mesmo vigor e entusiasmo de antes.
A serpente ofendida - Espécie extremamente perigosa de ter por perto. Você nunca sabe quando ele se ofendeu ou se decepcionou. Ele esconde de todos a mágoa e a cultiva cuidadosamente no seu interior. É frio e sabe esperar. Quando você menos imagina, ele dá o "bote" e se vinga da "ofensa" sem lhe oferecer a oportunidade de repará-la. É um tipo bem difícil de identificar. Algumas dicas: costuma ser distante nos seus relacionamentos, calculista, astuto, protocolar e jamais se "abre" com alguém.

E, como toda serpente, já terá picado alguém no passado. Cuidado para não confundi-lo com o "formalista leal" (que será descrito na sequência deste artigo), uma vez que ambos possuem características análogas. As principais diferenças entre eles são a astúcia e a agressividade reprimida.

Francisco Ferraz