sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A CRISE FEITA DE CRISES

Em 27 de junho de 2012, um ano antes das manifestações das ruas em 2013, publiquei no Estado A exaustão do modelo de governo ‘estado dependente’. Neste artigo afirmei que o modelo político do PT, que dependia dos recursos e prerrogativas do estado para se implantar, tinha atingido a sua exaustão que defini da seguinte forma:
“A exaustão de um sistema (social ou orgânico) se verifica quando ele passa a exigir quantidades adicionais de esforços e recursos para manter as mesmas condições de existência que antes podia sustentar com menos esforços e recursos. Exaustão de um regime político significa, pois, o esgotamento dos seus métodos, praxis e a prioris para enfrentar desafios que em grande medida se originaram de consequências não intencionadas de suas próprias escolhas.”
Apontei como indicadores dessa situação a reduzida capacidade resolutiva do governo para realizar os projetos que anuncia; a "perversa" dinâmica em que os maiores problemas de hoje resultam dos projetos de alta popularidade de ontem; o fato de que os segmentos sociais recém-beneficiados com novas pautas de consumo são frustrados pelas deficiências de infraestrutura, serviços básicos de saúde e educação; e a persistência da violência, criminalidade e impunidade em altos níveis.
São os novos motoristas prejudicados no uso do carro por engarrafamentos, estradas precárias e perigosas e falta de estacionamentos; os novos alunos para universidades sem condições físicas de recebê-los; o parque industrial moderno sem a mão de obra qualificada de que depende; e o novo Estado crescentemente paralisado por critérios político-partidários de recrutamento e promoção e pelo desprezo por critérios de mérito e desempenho.
O aspecto mais relevante referido no artigo era então o fato de que a causa da falência do modelo era internamente produzida e não o resultado de um fator externo ao governo.
“O Estado, então, é a força e a fraqueza do modelo. A força dispensa demonstração. A fraqueza escondida se revela quando é franqueado o limite a partir do qual o uso dos poderes do Estado perde sua funcionalidade e a razão para legitimar sua hegemonia diante da sociedade. Acredito que já estejamos dentro desse limite.”
Em 07 Setembro 2015 no artigo A Crise publicado no Estado de São Paulo declarei:
“Concordo que a atual crise é a mais grave que já tivemos, e vou além ao afirmar que o Brasil, por sua cultura e estrutura política, não está preparado para administrar e resolver satisfatoriamente uma crise dessas proporções.”
A crise atual é a mais grave das tantas que tivemos por que:

  • Acumularam-se três crises num mesmo momento: a crise econômica, a política e a moral;
  • Ao contrário das anteriores nesta o PT tinha o comando do executivo e um projeto de poder parcialmente implantado em seus três mandatos.
  • Enquanto era um partido pequeno, que se auto exilava pelo radicalismo, as crises eram resolvidas por negociações entre os partidos tradicionais.
O PT, a quem incumbe a iniciativa, pela titularidade do executivo, para resolver a crise está imobilizado porque, sem fartos recursos não tem mais como governar (não sabe como/não aceita os custos políticos) e, as soluções que se propõem para ela envolvem a recuperação de espaços pelo mercado o que, para o partido representa um retrocesso inaceitável por colidir com seu projeto político e suas determinações ideológicas.
São contradições como essas entre o remédio e a impossibilidade de adotá-lo por razões ideológicas que tornam a crise e seus desdobramentos maiores que a capacidade do nosso sistema político instável resolvê-la de forma eficiente, tempestiva e satisfatória.
Com essa crise múltipla o PT perdeu o rumo. A dificuldade para aceitar as necessárias concessões ao mercado leva o governo ao impasse de evitar cortes e a recorrer ao aumento da arrecadação por meio de impostos (CPMF).

Por Francisco Ferraz