Francisco Ferraz
“A verdade é geralmente vista, raramente
ouvida”
Baltasar Gracián (1601-1658)
Baltasar Gracián (1601-1658)
Esta é uma das leis do poder mais dificilmente
aceita pelos políticos e muito raramente praticada. O político é treinado para
manejar raciocínios e argumentos e tende a atribuir a eles um poder que não
possuem. As palavras possuem a propriedade de serem interpretadas de
acordo com o estado de espírito de quem as ouve, com as suas convicções,
inseguranças e incertezas pessoais.
Por estas razões, quem ouve um argumento, sobretudo
um argumento político - que sempre traduz algum interesse - fica normalmente na
defensiva. Até o melhor e mais "abotoado" argumento não possui
solidez suficiente para vencer resistências.
Estamos demasiadamente habituados com a natureza
escorregadia das palavras, que podem ser reinterpretadas, negadas,
reconsideradas fora do contexto em que foram pronunciadas, de acordo com o
interesse do argumentador. O polemista não entende isto. Não compreende que as
palavras nunca são neutras (sobretudo na política). O discurso do polemista
fala para ouvidos céticos. Ao perceber que não convence, ele recorre a mais
argumentação, agravando ainda mais a sua dificuldade de convencer e vencer.