BRUXELAS – Com medo da solidão, um casal belga de idosos
tomou uma difícil decisão: eles irão morrer juntos. Identificados apenas pelo
primeiro nome, Francis, de 89 anos, e sua esposa, Anne, de 86, pretendem cometer
suicídio assistido no dia 3 de fevereiro do ano que vem, data em que comemoram
64 anos de casados. A decisão tem apoio dos filhos, que compreendem a vontade
dos pais e ajudaram na busca por um médico que aceitasse fazer o procedimento.
A eutanásia é legalizada na Bélgica desde 2002.
O caso chama atenção porque nenhum
dos dois sofre de doença em estado terminal. O que impulsiona a vontade pela
eutanásia é o medo de ficar sozinho caso um dos dois morra antes. Contudo,
ambos já sentem os sinais da idade. Francis recebe tratamento para um câncer de
próstata há 20 anos e constantemente é medicado com morfina, enquanto Anne é
parcialmente cega e quase totalmente surda.
O medo da solidão é tão grande que
os dois vão sempre ao mercado juntos, temendo que o outro não retorne para
casa. Entre as opções para os próximos anos, a eutanásia foi o melhor caminho
escolhido por uma série de fatores. O casal descartou a opção de homecare, pois
teme perder as forças para decidir pelo suicídio assistido, assim como não poderiam
ser internados em uma casa de repouso, pois os custos são maiores que as
pensões que recebem.
- Nós queremos ir juntos porque nós
dois tememos pelo futuro – disse Francis, ao jornal britânico “Daily Mail”. - É
simples assim: temos medo do que vem pela frente. Medo de ficar sozinho e,
acima de tudo, medo das consequências da solidão.
Segundo Francis, a eutanásia foi o
método escolhido porque eles não teriam coragem para cometer suicídio:
-É preciso coragem para se atirar
de um prédio, é preciso coragem para se enforcar, é preciso coragem para se
jogar em um canal. Mas um médico te dar uma injeção e você dormir calmamente?
Para isso não é preciso coragem.
O filho do casal, John Paul,
considera a decisão dos pais a “melhor solução”. Segundo ele, os dois conversavam
sobre planos de morrer juntos como se estivessem planejando uma viagem de
férias. Tanto ele, como a irmã, foram os responsáveis por encontrar um médico
dispostos a realizar o procedimento após a recusa do profissional que atende a
família.
- Se um dos dois morresse, o
que restasse ficaria muito triste e estaria totalmente dependente de nós. Seria
impossível virmos todos os dias para cuidar do nosso pai ou da nossa mãe –
disse John Paul.
A eutanásia dupla não será a
primeira na Bélgica, país que realiza uma média de cinco mortes por dia com
injeção letal. Em 2012, os gêmeos surdos Marc e Eddy Verbessem, de 45 anos,
receberam o direito de morrer após descobrirem que ficariam cegos. Este mês,
Van Den Bleeken, condenado a prisão perpétua por estupro e assassinato, também
teve concedido o direito à eutanásia.
Casos como o do casal de idosos
levanta discussões sobre os limites da eutanásia e o suicídio assistido. Pela
lei, o pedido deve ser feito pelo paciente, de forma consciente, e ele deve
sofrer sobre “constante e insuportável dor física ou psicológica” resultante de
acidente ou doença incurável.